Em uma quarta-feira, eu me internei para tratar uma erisipela; no dia seguinte, descobri que tinha virado uma trombose; na sexta-feira, que havia uma embolia por conta desse quadro. No sábado, descobri que havia um tumor. No domingo, eu já sabia qual era o tumor e a extensão dele. Na terça-feira, eu comecei a quimioterapia. É um soco na cara, é um carro a 200 por hora que bate na parede. Você fica: ‘o que aconteceu, como assim?’. Eu, com 39 anos de idade, prefeito da maior cidade do País, estou aqui enfrentando um câncer.
Aí, a gente encontra força para viver. Eu me lembro sempre da frase do meu avô, Mário Covas, quando ele estava doente: “Tem o principal e tem o acessório; o principal é a vida”. Estou agora lutando pela vida. A cabeça, nós vamos segurando. Ajuda muito a quantidade imensa de mensagens que tenho recebido — de gente que eu conheço e, sobretudo, de desconhecidos. De todas as crenças.
São as mulheres que mais me abordam com mensagens de força. É impressionante como elas são muito mais emotivas. No shopping, você vê o marido com vergonha, e a mulher vem e fala comigo. Elas se comovem mais; cuidam da família e já pensam no filho, no sobrinho, no irmão.
Isso é impressionante. Dá forças.: ou você encara o desafio de frente, ou não encara. Ou você acredita nos médicos, acredita numa força maior, ou não acredita. E é importante encarar de forma pública. Acho que essa é a grande diferença. Eu não imaginei que teria esse tipo de reação, que conseguiria manter o meu dia a dia tão firme assim. A gente encontra força para viver.
Não parei de trabalhar. Diminuiu um pouco a energia. Não consigo mais acordar às 6h, ir para a academia, ter atividade o dia inteiro, ter três jantares à noite e dormir à meia-noite. Mas tenho mantido uma agenda normal de trabalho, exceto com as agendas externas, proibidas por enquanto pela queda na imunidade em função da quimioterapia. Essa é uma questão objetiva, não é subjetiva. Havendo forças, condições físicas e psicológicas para continuar na Prefeitura, eu continuo. O que eu tenho é a responsabilidade de dirigir a cidade. Enquanto tiver condições, sou obrigado a continuar governando a cidade de São Paulo. E faço isso com o maior prazer.
O advogado e economista Bruno Covas (PSDB) é político, neto de um nome muito respeitado e conhecido, o ex-governador de São Paulo Mário Covas, com quem morou uma parte da vida. Atualmente é o prefeito da cidade. Recentemente, descobriu um câncer e vem tratando o assunto às claras, certamente mostrando coragem e dando força a pessoas na mesma situação.