No começo deste ano, parti para o Brasil ao saber da descoberta de um tumor do cérebro de minha mãe. Desde então, a ponte aérea NY-Rio-Rio-NY era constante. O foco de vida passou a ser ela – precisava cuidar da pessoa mais importante da minha vida. De nada adiantaria ter uma empresa de sucesso nos Estados Unidos e uma vida elegante em Nova York sofrendo à distância?
Foi assim que voltei, depois de 10 anos em
Manhattan, onde fundei a
Vegan Divas, quando ninguém falava em veganismo por lá. Especializei-me em alimentação saudável e na indústria de alimentos. Depois de muito trabalho, tive sucesso, sorte e realizações que nunca imaginei. Vendia doces veganos pelos correios e nos melhores supermercados dos EUA. Publiquei dois livros, e alguns dos meus clientes eram
Madonna, Bill Clinton, Anne Hathaway e Mike Tyson. Meu rosto foi estampado nas estações de metrô da cidade. Mas nada disso me dava tanta satisfação quanto um trabalho paralelo: era diretora de uma ONG que distribuía comida saudável para as escolas públicas do Harlem, que também era sede de uma organização que fornecia comida vegana para os mendigos de NY. Sempre pensava: imagina fazer isso um dia no Brasil!
Coincidências da vida, em passagem por Ipanema, reencontrei o advogado Rodrigo Freire, um amigo que não via há mais de 20 anos. Conversa vai, conversa vem, descobri que ele fundou a “Corrente pelo Bem”, há nove anos, ONG que dá assistência à população do Jardim Gramacho, doando comida, roupas, tratamento de saúde e construção de casas. Ele me convidou para visitar a comunidade e rapidamente me apaixonei pela causa e pelas pessoas. Resolvemos criar um projeto de hortas orgânicas na casa dos moradores, para promover a saúde e dar aulas de culinária vegana – assim eles aprendem a produzir o próprio alimento, comer melhor e diminuir o consumo de processados.
O próximo passo vai ser levar profissionais bem-sucedidos de várias áreas para contar suas histórias e influenciar os jovens e moradores. Percebi que, como a maioria teve ou vive uma infância muito sofrida, não existe perspectiva de futuro e acabam entrando na marginalidade. Se conseguirmos inspirar alguns, fazer com que descubram uma vocação e, com isso, entrarem no mercado de trabalho, vai ser uma vitória.
As duas certezas que tenho hoje são: quando nos propomos a fazer a escolha do coração, o universo ajuda; a segunda, para aqueles que sonham em sair do país, por mais que a minha terra natal tenha dificuldades, é nela que temos as referências, amigos e história, portanto teremos sempre oportunidades e possibilidades aqui! É só acreditarmos.
Fernanda Capobianco é empresária, descobriu o veganismo quando ninguém nem falava desse assunto.