Quando comecei a escrever, podia tudo. Relendo coisas que escrevi há 15, 20 anos, mal posso acreditar na liberdade que se tinha — e como era bom. Mas não há bem que sempre dure; veio o politicamente correto e o moderno feminismo, que tornaram a vida melancólica e sem graça, afastando essa coisa tão boa, que é o encontro entre homens e mulheres. Encaretamos!
Antes que achem que sou contra o mundo gay, vou logo explicando que, para mim, somos todos pessoas, e cada um vai para a cama com quem quer — e ninguém tem nada a ver com isso. Na confusão que ficou este mundo, a grande questão do novo feminismo é quem vai lavar os pratinhos; sobre o resto, os homens não foram perguntados, e vou logo dizendo que, para mim, lavar um pratinho a mais é algo que faço com o maior prazer.
Quando, no carnaval, vejo um bloco de rua com as moças usando a camiseta “Não é Não”, fico triste com tanta bobagem. Quem não sabe quantas vezes acontece de as coisas começarem com um não e terminarem num radiante sim, ou começarem com um sim e terminarem num decepcionante não? E a paquera, não pode mais? E o carnaval, vai ficar essa coisa sem graça? Não se pode mais cantar Zé Kéti: “Vou beijar-te agora não me leve a mal, hoje é carnaval”? Não se vai poder nunca mais ver um bloco cantando “o teu cabelo não nega, mulata”, e nunca mais ninguém vai poder cantar Amélia, aquela “que achava bonito não ter o que comer”? Que mundo mais triste, este…
Minha imaginação é grande e sempre escrevi com muita alegria. De uns tempos pra cá, porém, percebi que estava me autocensurando. Sem liberdade, não dá para fazer nada, a não ser pensar, o que, aliás, não é pouco. Por isso, a partir de agora, vou ficar me divertindo só com meus pensamentos.
Danuza Leão é cronista e escritora. Publicou oito livros, todos best-sellers — o mais recente é “Quase tudo” (Companhia das Letras). Seu último trabalho, na Revista Ela, de O Globo, encerrou no último domingo (24/11), como anunciado pela editora Marina Caruso. (Foto: Lu Lacerda)