Fiz essa entrevista com Jorge Fernando (talvez o diretor mais adorado), há alguns anos. À época, ele pedia a volta do “por favor”, “dá licença” e “obrigado”, tema mais do que atual. Jorge morreu nesse domingo (27/10), aos 64 anos, depois de uma parada cardíaca provocada por um aneurisma. Assim que a notícia se espalhou, amigos ou artistas que trabalharam com ele publicaram os mais lindos e comoventes textos, destacando, principalmente, uma característica: alegria! Fora todas as suas grandes qualidades humanas.
À época da entrevista, ele dirigia o remake da novela “Guerra dos sexos” — 30 anos depois de ter dirigido a primeira versão, com Fernanda Montenegro e Paulo Autran — e fazia apresentações do monólogo “Salve Jorge Fernando — A comédia”. Escritor, diretor e ator, é um bem-humorado espetáculo autobiográfico que relembrava sua trajetória artística.
O último trabalho na TV Globo foi em “Verão 90”, a última novela das sete, depois de dois anos afastado, recuperando-se de um AVC. Atualmente, Jorge Fernando estava ensaiando o espetáculo “KaBoom”, com estreia prevista para janeiro, no Teatro dos Quatro, na Gávea. O velório vai ser nesta terça (29/10), no Teatro Leblon e, segue para a cremação na Capela Ecumênica do Cemitério da Penitência, no Caju.
Confira a entrevista “Invertida”:
UMA LOUCURA: Acho uma loucura se expor no palco. Atualmente relato fatos da minha vida em cena que precisei de anos de análise pra conseguir fazer isso.
UMA ROUBADA: Uma roubada é levar bolo — já levei vários. Sou romântico daqueles que esperam das sete à uma da manhã, e ainda acho que a criatura vai chegar. Quando vejo, tô dormindo.
UMA IDEIA FIXA: Tenho ideia fixa em crescer e rejuvenescer até o último dia da minha vida — tenho que cuidar mais da minha saúde. Estou caindo aos poucos — a bunda já caiu.
UM PORRE: Odeio bebida, sou careta; já fui mais abusado. A loucura é conviver consigo mesmo e, pra isso, quanto mais sóbrio, melhor.
UMA FRUSTRAÇÃO: Minha frustração é não ter sido carnavalesco — fico louco na época do carnaval. Aprendi a fazer show com o carnavalesco Fernando Pinto.
UM SONHO: Meu sonho é o de conseguir pensar nos outros. Ter saúde pra conseguir continuar ajudando a quem eu ajudo: minha família e as pessoas que eu amo.
UMA SÍNDROME: A síndrome de sentar atrás em veículos ou sentar no meio da fileira de cinema/teatro. Meu negócio é pelas beirolas — rs. Avião, só no corredor; não tinha isso, foi adquirido depois da velhice.
UM MEDO: Tenho medo da violência, falta de compreensão no mundo, politica e espiritual. A volta do “por favor”, “dá licença” e “obrigado” — a minha plataforma de um partido espiritualista.
UM DEFEITO: Meu defeito é a ansiedade, sofro por antecedência. Fazer uma novela de 180 capítulos! Imagina o que eu não sofro.
UM DESPRAZER: Desprazer? Já passei dessa fase — me decepcionei com algumas pessoas, convivo com muita gente.
UM INSUCESSO: Insucesso pra mim é motivo de crescimento.
UM IMPULSO: Impulso é o que me move. Tudo meu vem da intuição, minha vida é regida assim.
UMA PARANOIA: A paranoia do teatro vazio e de não conseguir transmitir pras pessoas aquilo que eu gostaria. Pode acontecer com qualquer um.