Entrei no centro cirúrgico do Badim, quinta-feira (12/09), às 14h, e em torno de 17:45, no decorrer da cirurgia que auxiliava, fomos informados de fogo no prédio antigo e, por isso, deveríamos liberar imediatamente o centro cirúrgico. Era uma cirurgia de redução de mama, para mim, esporádica, já que não trabalho ali. Normalmente, o centro cirúrgico é um lugar barulhento, já que todos os equipamentos emitem sinais sonoros. Ainda assim, ouvi o alarme de incêndio, mas estávamos tão concentrados na operação, que não nos demos conta do risco. Só quando fomos alertados pela enfermeira para sair imediatamente, foi que percebemos a gravidade da situação.
Eu já havia visto isso em filmes, mas nunca pude imaginar que algo parecido poderia acontecer comigo. Eu, três funcionários do hospital e a anestesista colocamos a paciente, ainda entubada, numa prancha; só deu tempo de pegar uma bala de oxigênio, uma ambulância e descer os quatro andares pela escada, ventilando manualmente, com ela anestesiada. Na rua, conseguimos extubar a moça, que foi transferida para o Rios d’Or. No caminho dos andares, me impressionou a capacidade de mobilização dos funcionários para o resgate de todos.
Havia um direcionamento muito eficaz agrupando os pacientes no quarto 223, que dava acesso às escadas laterais do prédio anexo. Isso gerou um fluxo ordenado de saída. Por conta dessa sinalização, não vi ninguém perdido pelos corredores, o que deve ter salvado muitas vidas. Utilizando essa escada externa, consegui subir outras cinco vezes, descendo com quem estava sem possibilidade de caminhar — um deles na RPA (recuperação pós-anestesia), ainda sob efeito de raquianestesia. Não foi fácil devido ao peso: eram necessárias, no mínimo, seis de nós para descer cada uma daquelas pessoas com segurança. Felizmente, com o grupo de funcionários ali, fomos capazes de descer o máximo de pacientes possível, até que os bombeiros chegassem.
Não havia fogo, mas a fumaça quente se formou muito rápido e, em minutos, não era possível enxergar mais nada. Eu, particularmente, fico sentido por não conseguir ter feito mais. Eu vi, ao menos, sete leitos com pacientes em ventilação mecânica que não conseguimos retirar a tempo, até que os bombeiros impedissem nossa subida devido ao risco inalatório. A partir daí, somente eles, com máscaras de oxigênio, eram capazes de acessar o prédio. A meu ver, se não fossem a garra e a organização dos funcionários para salvar o máximo de pacientes possível nos 45 minutos cruciais (até a chegada dos bombeiros), imagino uma tragédia muito pior.
Na hora, havia cerca de 200 funcionários e 100 pacientes; a capacidade de resgate desses 200 heróis foi algo sobre-humano. Merecem o meu máximo respeito e admiração pelo comprometimento em não apenas cuidar, mas também salvar vidas. Aos colegas da rede, diretoria do hospital e familiares de pacientes fica aqui meu sincero sentimento.
Depois de tudo, a gente sempre pensa no risco que correu, baixa uma autocrítica. Mais normal se preocupar com os pacientes, num momento muito mais frágil e vulnerável do que nós próprios, que estamos em plena consciência. Vou sempre me lembrar desse dia como uma experiência de vida. Nunca imaginei que fosse interromper uma cirurgia no meio pra tentar salvar a minha vida e de quem estava sendo operado. Mas, acima de tudo, ficou um sentimento muito grande de gratidão e mais apreço pela vida, principalmente ao chegar em casa e ver a alegria dos meus filhos por eu estar salvo.