A nova aposta do pop é carioca, é linda, é fluente, com voz forte na fala ou no canto: Giulia Be tem apenas quatro meses de carreira, mas já com grandes proporções. Aos 19 anos, a cantora e compositora já tem contrato assinado com a gravadora Warner. Viu sua primeira música de trabalho, “Too Bad”, entrar na novela “O Sétimo Guardião”, de Aguinaldo Silva”, mesmo antes de ser lançada em fevereiro, cujo clipe superproduzido está com mais de nove milhões de visualizações no YouTube — teve mais de 12 horas de duração e envolveu mais de 100 profissionais, com direção de Brendo Garcia e Adriano Gonfiantini, da Conspiração Filmes.
Há uma semana, o single “Chega” ganhou as plataformas digitais, e quase dois milhões de pessoas já acessaram o hit no YouTube; e foi convidada pelo americano Kane Brown para cantar no Rock in Rio 2019, no palco Sunset, no dia 5 de outubro. Quem assiste aos vídeos não imagina que, até então, ela era reservada e, digamos, fora da curva para uma pós-adolescente, com ideias maduras e composições melancólicas, baseadas em suas próprias experiências, mas com ritmo mais explosivo. Ela foi descoberta pela Warner quando publicou o vídeo da música “Deixe-me Ir”, do grupo 1Kilo, e “Big jet plane”, parceria de Alok & Mathiue Koss, ambas no YouTube, no início do ano passado. Não teve dúvidas: trancou a faculdade de Direito e se atirou na carreira musical.
Pessoalmente, você parece uma pessoa diferente dos clipes. Já lhe falaram isso?
(Risos) Costumo dizer que ‘baixa alguém’ quando começo a cantar.
Mal lançou “Chega”, e já é um sucesso. A vida anda agitada?
Minha vida está como Fórmula 1; nunca imaginei que fosse me encontrar aqui hoje. Espero poder continuar fazendo o que eu amo pra vida inteira. É bizarro, né? Era para eu levar uma vida tradicional, fazer faculdade de Direito Internacional, mas senti que tinha que fazer isso agora, ou já era. Não conseguiria viver comigo mesma se não tivesse tentado, e acabou dando certo.
Como tudo começou?
Eu me formei na escola, com 17 anos. Queria tirar uns seis meses para viajar, sempre amei estudar, tinha ótimas notas, e meus pais me deram esse tempo. Já escrevi música por anos, e o plano estava lá, mas não pensava em lançar nada porque minha vida era muito normal – tinha todas as inseguranças de uma adolescente. Decidi ir ao Rock in Rio 2017, quando uma amiga me convidou, e acabei no camarim do Maroon 5. Era minha banda predileta; fui ao RIR assistir quando eu tinha 11 anos. Mas pensei que a gente seria uma foto e pronto, e acabou, mas acontecendo o inimaginável. Cara de pau que sou, me enfiei no meio da conversa e disse que cantava. O guitarrista James (Valentine) me acompanhou em “She will be loved”, da banda, e daí ele entrou na vibe. Depois, virou-se para mim e falou que minha voz era incrível. E eu só pensava: ‘Quem sou eu na fila do pão?’. Saí dali com um plano traçado para colocar um vídeo na Internet, a famosa história dos artistas atuais. O empresário me encontrou, a gravadora também e, quando chegou a época de voltar e abrir a matrícula, eu pedi mais seis meses.
Mas e o Adam (Levine, vocalista do Maroon)?
Ele estava mais afastado, mas, quando terminei de cantar, ele levantou da cadeira, veio até mim e elogiou minha voz. O cara é jurado do The Voice e virou a cadeira pra mim. Nossa…. E ele é gato daquele jeito mesmo, o Photoshop em pessoa. Tive que focar para não parecer tiete, bancando a cool.
E quais as sensações de ter uma música na trilha de novela ou ser convidada pelo Rock in Rio?
A música na novela foi inesperada porque entrou na trilha antes de ser lançada. Ela chegou ao top três do Shazam Brasil (aplicativo que descobre o nome da música) porque as pessoas queriam saber que música era aquela. Mas, quando ouvi pela primeira vez, não acreditei — achei que era montagem. Mas não dá para comparar uma coisa com a outra. Do Rock in Rio, a ficha não caiu ainda; só quando estiver no palco. O Kane Brown viu o vídeo da “Too Bad”, sabia que viria ao Brasil e pediu aos empresários para entrar em contato comigo. Daí me convidou para cantar umas músicas minhas no show dele, e devemos fazer dueto. O resto não posso contar; ainda estou absorvendo tudo.
Beleza é fundamental?
Imagem faz parte da carreira do artista, mas gosto de ter propósitos. Claro que imagem é importante, mas, no clipe, me preocupo com a história a ser contada, a expressão facial para passar determinada emoção – coisas que vão além do plano físico. Só pela beleza, é muito vazio. As pessoas são lindas no Instagram e, se for me comparar, existem mulheres muito mais lindas e magras do que eu, vivendo um a vida perfeita no México, nas Bahamas. Não é real, isso não existe.
Críticas a abalam?
Só eu sei o que sinto quando leio algum comentário negativo, mas o outro lado é ver o apoio também. Tenho momentos de insegurança, claro, mas deparo com pessoas torcendo por mim. Tenho fã-clube e acredito que seja um carinho genuíno. A Internet tem um lado escuro e outro, muito muito positivo, que é tocar as pessoas com a sua arte. Sempre me preocupei em fazer algo diferente do que tem no Brasil. Música para meninas iguais a mim, sobre amor, se sentir bem, que desse esse empoderamento. “Too Bad” é baseada na minha vida, num relacionamento lá atrás, e “Chega” de outro momento, que eu vi que merecia muito mais do que a pessoa me dava.
Você escreve letras intensas. Você é daquelas compositoras que precisam sofrer para criar?
Minhas composições poderiam ser facilmente para músicas sertanejas. Se eu não der certo no pop, já sei para onde eu vou. Brincadeirinha, mas o Brasil é carente de letras que falam sobre amor, coração quebrado, sair do fundo do poço, pelo menos no pop. Adele escreveu o álbum inteiro para o ex-marido e está faturando milhões. Mas fato é que sou uma pessoa sensível, não de chorar, mas de sentir intensamente tudo. Minhas amigas dizem que, daqui a pouco, vou ficar igual a Rihanna, enterrando homem nos clipes (“Man down”). Mas tenho música sobre tudo, momento amor, término, decepção em amizade, processo de autoestima. É tudo você sentir e não deixar a vulnerabilidade assustar.
Você tenta passar uma mensagem para a sua geração?
A geração que vem aí passa uma mensagem de que está tudo bem, que é forte, mas tem medo de amar, de ser vulnerável, de mergulhar na incerteza. Estou lendo um livro que diz que o maior medo contemporâneo é perder-se no afeto; você acaba tendo medo e não vive o bom da vida. Eu enterro os meus assuntos nas minhas letras.
Influências?
Para compor, Ed Sheeran. Se ele emplaca tantas músicas, é porque toca as pessoas. Eu sempre quis fazer uma música universal, que tivesse uma mensagem. Adoro Anitta, Pabblo Vittar, mas as que não são muito conhecidas pelo público, que têm um conteúdo legal. Só que o meu propósito é fazer música com pegada animada, mas que fale com emoção, tipo “passei por tudo isso mas estou de pé, dançando essa música e curtindo”.
Próximos passos…
Estamos preparando o próximo lançamento, mas vamos deixar “Chega” ganhar seu espaço antes de soltar mais uma. Além do RIR, também estou estruturando meu show. Preciso ganhar experiência e, por ser muito perfeccionista, gosto de ter bastante ensaio. Tenho ensaiado todo dia. O próximo passo é continuar ganhando a estrada com shows, cada vez mais aprimorando a performance. Continuo treinando dança e minha técnica vocal também pra conseguir aguentar o ritmo de tudo. E, por enquanto, muitas horas no estúdio escrevendo mais músicas e me preparando para o próximo lançamento, que está menos distante do que imagina! Ainda este ano, lanço muitas outras músicas.