Rituais possuem regras para que possam atingir seu sentido: engajar, seduzir, enlevar. Rituais religiosos são ritos de passagem que nos tiram da crueza do cotidiano e levam nossa alma e nosso coração para o plano do espírito, como acontece em “Missa para Clarice – Um Espetáculo sobre o Homem e seu Deus”, espetáculo de Eduardo Wotzik, no Teatro Laura Alvim.
Em vez de, simplesmente, contar uma história adaptada dos textos de Clarice Lispector, Eduardo Wotzik capta as palavras que dialogam o espírito religioso, as dúvidas e crenças da autora com as possibilidades espirituais das matrizes judaico-cristãs. O ritual não é uma recriação da missa católica – é a força da individualidade do gênio no campo espiritual.
“Eu não sou um diretor de espetáculos populares. Estou sempre em busca de realizar algo que construa a arte. Missa no sentido de missão, de levar através de um ritual a obra de Clarice ao espectador e produzir uma reflexão”, declara Eduardo Wotzik, que passou os últimos 20 anos preparando-se para essa montagem.
O público é participante ativo o tempo todo. Senta-se, levanta-se, lê trechos no missal que é distribuído, recebe um pequeno texto, uma comunhão com aquilo que se passa no palco. O diretor/adaptador/ator Wotzik é o Arauto que espalha as chamadas boas novas – as mesmas e brilhantes palavras de Clarice num ritual cênico impecável.
Teatro Laura Alvim, Ipanema
Sexta a Domingo, às 20h
Fotos: Ricardo Brajterman