Nunca fui magra, mas depois de 2005, quando me formei em Publicidade, o probleminha virou uma questão. Hoje, enxergo claramente que o negócio desandou quando não consegui emprego na área e optei por passar meus dias fumando maconha e comendo. Minha mãe falava comigo sobre a opção de fazer uma cirurgia bariátrica, mas foi só em 2009 que tive coragem. Eu tinha pré-diabetes, colesterol e triglicerídeos altíssimos, subir um degrau doía muito, e o calor que eu sentia! Vivia suando.
Emagreci 50kg em poucos meses, mas, como eu não me comprometi com uma reeducação alimentar, logo depois descobri ter hipotireoidismo… Recuperei 20kg. Foram nove anos convivendo com excesso de álcool e drogas; subia morro como se não houvesse amanhã. Tenho histórias para contar das minhas doideiras que renderiam uma Bíblia! O dia em que a coisa desandou, foi quando saí de casa numa quinta-feira, desliguei celular e fiquei até sábado à noite numa casa estranha com pessoas estranhas, sem a menor noção de tempo. Foram muitas aventuras; no final do meu fundo de poço, bebia facilmente uma garrafa de vodka sozinha.
Eu frequentava um bar em Ipanema e, apesar das doideiras, sempre encontrei anjos no meu caminho. Lembro de um taxista: eu, sempre sem dinheiro, ele me levava em casa de graça. Dizia que, se acontecesse algo comigo naquela caminhada até o Leblon, ele não se perdoaria. Foi realmente um período em que meus amigos se afastaram, nunca deixaram de torcer por mim, mas conviver comigo era bem complicado. Aquelas olheiras, meu mau humor, meu bom humor excessivo, tudo trazido pelo pó. Não os julgo por me excluírem, pois eu também não gostaria da minha companhia.
Costumo brincar que fiz estágio na Copa do Brasil, em 2014, e me aposentei nas Olimpíadas – foi o período mais intenso… No último dia de Olimpíadas no Rio, 21 de agosto de 2016, tomei um pouquinho de vergonha na cara e decidi que aquela não era a minha vida, eu não era aquilo, eu estava aquilo, e pedi para ser internada. Fiquei um mês e uma semana internada em uma clínica em Botafogo, e mais três semanas com enfermeiras 24 horas atrás de mim.
Nesse período de reclusão, participava das terapias em grupo e comecei a me descobrir, a entender quem eu sou. Lembro uma conversa que tive com a minha psicóloga lá dentro, e falei que teria que começar uma formação em Psicologia, pois não seria capaz de sair daquele confinamento e não ter mais aquela dose diária de conhecimento. Durante mais de um ano, me dediquei ao autoconhecimento; só saía para as aulas e coisinhas rápidas bem perto de casa, e só com amigos.
Em 2018, resolvi que era hora de voltar a sair, que eu não seria dessas pessoas que trocam a mesa de bar por uma sala de reunião de autoajuda. Não queria amigos novos, queria os meus! Nunca imaginei que pudesse sair e me divertir sem estar alterada… Hoje me sinto uma adolescente, frenética que sai todo final de semana e, para minha surpresa, nunca me diverti tanto. Óbvio que sou meio neurótica, e aprendi algumas coisas; acho que a mais importante é sempre ter um copo diferente dos amigos com álcool – isso ajuda muito a não dar mole! Apesar de as minhas bebidas terem sempre cara de drinques, com muito gelo e tal, sempre coloco um diferencial para eu não me pregar uma peça. Também não saio para lugares que tocam músicas que eu não curto… Hoje, sei que meu gatilho era a frustração, e sempre que esse sentimento volta, sei que se der um golinho em alguma bebida, o incomodo passa em 3, 2, 1. Mas estou tão feliz de volta ao escritório de onde saí duas vezes, pelo excesso de álcool e falta de compromisso.
São 10 anos desde a bariátrica, são muitas histórias para contar, mas o autoconhecimento é meu maior amigo. Além de hoje eu aceitar elogios, pois sei que os mereço, eu também sei meus defeitos e limitações. Adoro dançar, mas não sou mais inimiga do fim, sei minha hora de ir para casa… Quando não me sinto bem em um lugar, vou embora. Minha força de vontade é maior, e estou tão feliz e realizada, que, quando a vontade aperta, meu pensamento de não voltar para aquela vida é mais forte. É um querer que vem de dentro, é um desejo de querer, quase um sentimento, que me faz seguir em frente e só olhar para trás como referência do que não quero para o meu futuro. Hoje, graças a Deus, a mim e às pessoas que me cercam e me apoiam, sou uma pessoa feliz 99% do tempo; só desejo espalhar amor e inspirar os outros. Agradeço todos os dias, antes de me levantar e antes de deitar, mas não me arrependo de absolutamente nada, pois todas as experiências me trouxeram ao lugar de hoje. Se pudesse voltar atrás, faria diferente?! Nunca! Faria tudo igual.
Carol Novaes é publicitária, estudante de Psicologia, atualmente trabalhando na Documennta Comunicação.