Se existe alguém que pode entender e explicar as teias políticas deste país, é o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda. Não há dúvida sobre a importância histórica deste dia 7 de outubro, em todos os sentidos: “Hoje é dia em que todos os brasileiros, independentemente de sexo, cor, cultura, renda ou profissão, ficam exatamente do mesmo tamanho”, afirma o pernambucano. Antonio é especialista em comportamento eleitoral e marketing político – pioneiro, no Brasil, nos estudos teóricos e uso da neuropolítica (interpretação das reações neurais das pessoas em relação às mensagens dos políticos), não à toa, acredita que as redes sociais têm um papel relevante, porém, perigoso, a constatar os milhares de “fake news” disseminados.
Lavareda já participou, como coordenador ou consultor, de estratégia de inúmeras campanhas: presidente, governadores, senadores e prefeitos em todo o País, além de ter levado sua expertise para Portugal e Bolívia. É doutor em Ciência Política, mestre em Sociologia, presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) e fundador do Laboratório de Neurociência Aplicada (NeuroLab). Apresenta o programa de TV “Ponto a Ponto”, dedicado às pesquisas de opinião pública, ao lado da jornalista Mônica Bergamo, na BandNews; e, desde setembro de 2017, também apresenta o programa de entrevistas “20 Minutos na TV Jornal”, afiliada do SBT em Pernambuco. Seja o que for dentro desse tema, ao contrário dos políticos, não precisa pensar: tem a resposta clara na ponta da língua.
Qual o seu ânimo com o atual quadro eleitoral?
Meu ânimo é positivo. Em pouco mais de um mês de um processo intenso, o interesse foi avançando, praticamente todos os brasileiros estão ligados na decisão do voto. Pesquisa do Datafolha mostrou que 69% acham que a democracia é a melhor forma de governo. E, como sabemos, a eleição é a festa da democracia, quando ela é exercida em sua plenitude. Todos os brasileiros independente de sexo, cor, cultura, renda, profissão, todos ficam exatamente do mesmo tamanho.
É como na praia então?
Não concordo, na praia é que a gente constata as diferenças (rsrsrs)
Uma das perguntas mais feitas ao Google é “Como anular o voto?” A que você credita esse fenômeno?
Credito ao desinteresse, à decepção, em meio a um processo de crise tão acentuado com a economia, com a ética, com a representação, é natural que antes de um contexto desses o eleitor se desinteresse; é bem natural. Mas isso está longe de ser racional, a melhor forma de reagir é escolhendo o candidato. Faça do voto um instrumento.
E quando a pessoa não aprova os candidatos numa eleição polarizada, por exemplo?
Sou adepto de votar no menos pior.
A intolerância e a polarização vai nos levar aonde?
O brasileiro tem dois caminhos, ou o país continua uma nação dividida, com as redes sociais fazendo as vezes de redes de arame farpado, separando as pessoas, estimulando a raiva de uns em relação aos outros ou procura a convergência de cada um dos quadrantes ideológicos, estabelecendo uma convivência civilizada.
Que Brasil deve surgir das urnas?
O Brasil que deve surgir das urnas com certeza será diferente de hoje, esse país com um novo presidente eleito no primeiro, ou no segundo turno quando as urnas forem abertas saberemos, terá legitimidade para conduzir um conjunto de reformas que são hoje vistas por todos como imprescindíveis para destravar a retomada do processo de crescimento econômico. Precisamos escapar dessa recessão que durou três anos, escapar numa velocidade maior do que a que temos conseguido no momento e pra isso um presidente eleito pelo voto de dezenas de milhões de brasileiros vai ter a legitimidade suficiente pra leva-las a cabo, vai ter autoridade maior para dialogar com o congresso, vai ter a condição de reunir a sociedade brasileira para uma ação conjunta em favor do país, acho que o Brasil em 2019 tem tudo para percorrer uma trajetória que vá na direção de assegurar um crescimento sustentável, sem o qual nós não teremos melhoria da qualidade de vida das famílias, não teremos a recuperação dos empregos que foram perdidos e não teremos abertura de janelas de esperança para nossa juventude que hoje ou está fora da escola ou esta a procura de emprego.
O futuro apavora?
O futuro embora nos preocupe, e é natural que assim seja, porque são muitas as variáveis de incerteza, de outro lado deve ser o nosso horizonte de esperança. O Brasil reúne todas as condições do ponto de vista da sua economia, no ponto de vista da sua natureza, do ponto de vista dos seus recursos, e sobretudo do ponto de vista da sua gente, do capital humano que temos, reúne todas as condições para retomar um processo que já tivemos no passado, de crescimento, de expansão econômica continua, e isso de uma forma que permita assegurar aos brasileiros um padrão de vida digno, ou seja, o Brasil precisa resolver alguns problemas que se acumularam, a miséria concentrada na periferia das grandes cidades, o nível de violência que alcançou taxas absolutamente insuportáveis, um sistema de saúde que a despeito de ser do ponto de vista legal um dos mais democráticos do mundo, ele peca pela ineficiência, peca por problemas evidentes de gestão, e o Brasil precisa melhorar muito o seu sistema educacional, melhorar o ensino da infância, melhorar o ensino médio, melhorar o ensino no terceiro grau, precisa preparar uma mão de obra qualificada para esse futuro, que do ponto de vista econômico, se apresenta como auspicioso.