Os duelos sejam eles quais forem opõem mais do que pessoas. Colocam frente a frente mitos, dominadores, dominados, pai e filho, homem e mulher, repressor e reprimido. Prisão e liberdade. E existem momentos que as oposições tem que vir à tona, serem tratadas com coragem. Expostas, sangradas, sem qualquer temor. A peça “Revisitando Tebas”, com o ator Xando Graça, criação colaborativa entre o ator e o dramaturgo Fávish, em cartaz no teatro Maria Clara Machado, no Planetário, transforma, com muito talento, vários nervos expostos em momentos de absoluto prazer.
Em uma atualização e releitura do mito de Édipo, aproxima as transformações de Tebas com o que aconteceu na Ditadura Militar no Brasil. São 3 níveis de leitura, em um monólogo denso em que Xando interpreta um policial graduado, agora afastado, das forças de repressão. A abertura com vídeos que simulam manchetes da jornais, além edição bem realizada, começa de imediato a traçar o painel paralelo. O cenário que se aproxima de um estúdio de um pintor, fundamental para a virada final do espetáculo, é o ambiente em que a confissão e os dilemas do personagem se delineiam e explicam o duelo de uma população que se quer livre e forças que a querem subjugada.
Sobre a montagem de “Revisitando Tebas”, o ator Xando completa: “A peça nasce como uma síntese das muitas crenças que venho acumulando nos 35 anos em que faço teatro. Crença de que é necessário cada vez mais refletir sobre o nosso tempo, o mundo onde nos cabe viver, a nossa inserção como atores em uma sociedade que cada vez mais reafirma o seu pacto com a violência, com a desigualdade, com a exclusão; crença de que é possível aprendermos com os nossos erros e os erros dos outros, não para atingir a utopia de não mais errar, mas antes, para alcançar a tranquilidade de que pelo menos estaremos errando diferente; crença de que o teatro só existe e vale a pena se for utilizado como fonte de inspiração para melhorar a vida dos seres sobre a Terra.”
Em 70 minutos, torna-se quase que impossível se desgrudar de Xando. Em uma atuação , difícil de realizar, pois parece estar conversando com a plateia, vai-se apresentado um novo mito. Uma Jocasta poderosa. Um Édipo apenas príncipe-consorte. Um conselho que não admite ser governado por uma mulher. Um pai desesperado com a filha militante. Tudo como vemos hoje. Exatamente igual. Por isso fortemente próximo. E como todo drama grego, catártico.
Serviço:
Teatro Municipal Maria Clara Machado
Sextas às 21h
Sábados e Domingos às 19 e 21h.
Fotos de Paula Kossatz