Passarinho é canto, é delicadeza, é filiação. É liberdade de voa, passarinho, voa. É também com diz Mario Quintana “eles passarão, eu passarinho”. Essa capacidade de se filho e se aconchegar, de se liberar, de se movimentar com toda delicadeza, de ir de árvore em árvore, de pequenos experimentos com o bico, de poder exercer a beleza é o passeio do espetáculo Passarinho, com texto e atuação de Ana Kutner e direção de sua irmã Clara Kutner, em cartaz na Sala Multiuso do SESC Copacabana.
As irmãs de Ana, Clara e Bel Kutner também atriz, a chamavam de passarinho em casa. Do apelido/codinome, Ana constrói, a partir do eixo de uma radiografia de sua geração nos anos 80 e 90, um monólogo no qual o diálogo com os personagens de sua vida, de sua trajetória artística, torna-se uma narrativa para lá de interessante. Uma atuação que mistura texto, dança, música, intimidade, histórias reveladas se casam no mesmo movimento de um passarinho sair do ninho, começar a bater as asas e partir.
“A peça defende o direito e a liberdade de sermos quem somos, sem julgamentos ou rótulos. E neste sentido ela é política e universal. Ela só é radical na não radicalidade. Nela falo, sim, de meu pai e minha mãe (Paulo José e Dina Sfat), na medida em que eles são também minha história e minha memória, mas falo de muitos outros afetos e de como eles me atravessaram pela vida. E de como todos nós nos deixamos atravessar ou atravessamos o outro.”, completa Ana.
É memória que não é memória pois os fatos podem acontecer com qualquer um de nós. É revelação de amores, de impasses, dos olhares da juventude, do uso de drogas, da relação com os pais. É a narrativa de se construir uma individualidade, a própria subjetividade a partir de um “eu confesso” público, no qual sexualidade, maternidade, sororidade com as irmãs, escolhas de vida são o pano de fundo para alcançar novos patamares. Voa, Ana/Passarinho, voa.
Serviço:
Sala Multiuso do SESC Copacabana
Quintas, sextas e sábados às 19h
Domingos às 18h