Padre Jorjão, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, fala de maneira direta com o morador do Rio, numa linguagem clara e coloquial, sobre qualquer problema da cidade. Não há nada que ele não saiba; até sobre o que se recusa a falar fica subentendido, como você pode ver nesta pequena entrevista. Consegue também inserir temas do interesse de todo mundo nas missas. E, até no comportamento, age como os cariocas: usa tênis e redes sociais, usa iPad e está sempre participando de eventos importantes, principalmente aqueles em defesa de assuntos de interessa geral. Sempre foi assim, nos mais de 25 anos nesse caminho.
As aflições dos cariocas aumentaram nos últimos tempos?
Percebo que as pessoas estão muito mais aflitas: é desemprego e falta de dinheiro, e isso tudo afeta até a vida conjugal. Cada vez mais, as famílias me falam que estão indo embora do Rio.
O senhor percebe isso durante as confissões?
No atual momento, as confissões antigas se transformaram em desabafo. Mais do que confessar, as pessoas querem desabafar.
O que achou do episódio do prefeito Marcelo Crivella se reunindo com pastores evangélicos para oferecer serviços que deveriam abranger toda a todos?
Eu, como padre, não me cabe falar sobre política.
Percebe maior intolerância da população?
Percebo, sim. Nosso povo é tolerante; ultimamente é que isso vem mudando. Todos nós sabemos de onde vem essa intolerância. Eu é que não vou citar – não convém misturar religião com política. Existem aqueles que, em vez de querer unir, querem separar. Nunca me esqueço de quando Dom Eugênio chamou um governador e esclareceu que nunca perguntamos a religião de quem ajudamos, que pouco importa. O pior e mais triste é quando a religião é usada para separar. A igreja vê o ser humano: todo mundo é filho de Deus.