“A primeira vez que descobri uma lesão, eu tinha apenas 13 anos. Foi um derrame no joelho, que me tirou da atividade por quatro meses. Eu não entendia o porquê de tanto tempo; isso me deixou muito desestimulada. Precisei muito do apoio da minha família e dos meus professores. E agora, há uns cinco anos, descobri uma protusão na coluna; até hoje, tenho que passar por tratamentos semanais de RPG e fisioterapia, para continuar dançando. Graças à minha fisioterapeuta Roberta Lomenha, conseguimos manter minha rotina de bailarina, mesmo nas temporadas, quando as dores aumentam pelo excesso de trabalho.
Às vezes acordo e tenho a sensação de que não vou conseguir fazer nenhum movimento naquele dia; mas a força de vontade e o amor me fazem levantar da cama e seguir em frente. A carreira de uma bailarina, ao mesmo tempo que é viver um sonho na vida real, é também um mundo de privações… Ao longo do tempo, posso sentir na pele o que é não poder ter uma vida “normal”, como as minhas amigas de infância e adolescência, mas sabia que tudo isso era consequência de algo que eu tinha como meta: a minha carreira de bailarina.
Sempre muito dedicada, fui aprendendo que a disciplina rígida do balé me levaria além dos palcos; era algo que seria para o resto da minha vida. Se um dia pensei em desistir? Em algum momento, sim. Mas não tenho ideia do que teria me tornado se isso tivesse acontecido… Não mesmo. Nasci para a dança, para a arte – a ela dediquei e dedico minha vida. Não foram poucos os momentos de frustração, dor, angústia e incertezas, mas posso afirmar, com toda convicção, que estar em cena é uma das coisas mais incríveis deste meu mundo!
Comecei os estudos de balé aos 4 anos, na Academia Valéria Moreira e, aos 8 anos, prestei exame para ingressar na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, onde o “sonho” de entrar para o Corpo de Baile era apenas um sonho… Ao longo dos anos, fui me dando conta do que realmente queria para a minha vida. Aos 14 anos, ainda na Escola de Dança, comecei um estágio no Corpo de Baile. E foi aí que me dei conta do que realmente estava acontecendo: o sonho se tornando realidade. Aos 16, me formei e fui fazer intercâmbio de Ballet na Europa – uma experiência incrível! Passei por Cuba, a convite do grande maestro Fernando Alonso e, voltando ao Brasil, comecei a me preparar para a audição pública, a fim de ingressar no Corpo de Baile. Sob a direção artística de Jean Yves Lormeau, ex-Etoile da Ópera de Paris, me tornei bailarina do Theatro Municipal, onde estou até hoje! Passei pelo Corpo de Baile, solista, dancei muitos primeiros papéis, aprendi outros… Trabalhei com grandes nomes da dança e interpretei grandes obras. Até que, por fim, me tornei Primeira Bailarina.
Nesse dia 14 de julho, comemoramos, com muita alegria, os 109 anos do nosso amado Theatro. Sou privilegiada de poder fazer parte da sua história gloriosa, de altos e baixos, mas gloriosa. Pode ser que, quando me aposentar dos palcos, eu não esteja lá todos os dias, para alguma outra função, mas o amarei, com toda certeza, para sempre, pois tudo que tenho e sou foi através do meu trabalho de bailarina que ele me proporcionou. Espero que todos os problemas que tivemos em 2017 fiquem no passado. Lutamos muito, muito! Fomos além do nosso limite! Passamos por situações jamais imaginadas, mas conseguimos! Temos uma missão e acredito que ela esteja sendo cumprida. Precisamos do nosso Theatro, do nosso maior templo de artes do nosso país. Fomos ovacionados na nossa volta aos palcos no dia 23 de junho, depois de um ano sem a temporada oficial de balé – uma das maiores emoções que já vivi ali: inexplicável e inesquecível. A vida continua. O balé continua, e eu, continuo o meu sonho real de ser bailarina do meu Theatro Municipal”
Claudia Mota é 1ª bailarina do Theatro Municipal, que comemora 109 anos neste sábado (14/07).