A palavra é de prata e o silêncio é de ouro. Como se representar em um tempo que os estímulos sonoros são gigantescos? Gravam-se mensagens, toques nos acordam, músicas são trilhas do cotidiano. É um mundo comandado pelos fones. E como construir um diálogo em narrativas que se misturam gestos humanos aos gestos de bonecos? “Gritos“, em cartaz no Teatro Laura Alvim, leva-nos a novas dimensões.
“Gritos”, uma criação da Cia. Dos à Deux, com dramaturgia, cenografia e direção de André Curti e Artur Luanda Ribeiro, é formada por três poemas gestuais metafóricos criados a partir de um tema: o amor. Assim, vai desenvolvendo homens e bonecos, atores gente e atores fantoches para causar uma reflexão sobre formas de amor.
“Essa pesquisa, na fronteira entre artes plásticas, formas animadas, teatro e dança, nos fez ter uma nova sensação gestual que, até então, não havíamos experimentado. Um gestual potente, complexo e contido”, explica Artur. “Ao longo da criação, na pesquisa de formas animadas, nós fomos dando vida ao invisível dos corpos, aos poucos, como se a vida tivesse arrancado um pedaço desses personagens, obrigando-nos a dar poesia e intenção a objetos que se tornaram corpos, e corpos que se tornaram objetos”, explica André.
A instalação composta por colchões de mola e a sua transformação em ambientes fazem da cenografia mais um personagem. A morte injusta de um transexual, a dissonância entre o material e a mente no homem sem cabeça, o amor que não concretiza pela guerra são os temas que, em uma atuação sem palavras, gritam-nos que o mundo anda difícil. (Fotos: Renato Mangolin)
Serviço:
Teatro Laura Alvim
Sexta e sábado, às 20h.
Domingo, às 19h.