Por mais óbvia que esta definição possa parecer, a casa tropical é, na realidade, uma customização de experiências positivas e negativas. Resistir aos trópicos não é nada óbvio. Ao longo dos anos, colonizadores ou moradores naturais experimentaram formas e materiais de construção que pudessem ser resistentes e funcionais neste clima complexo. Foi, através dessa arquitetura laboratorial, que construímos conceitos sobre a casa tropical.
Uma casa tropical tem que ter ventilação – essa é a primeira grande necessidade. A umidade, junto com o calor e sem a ventilação, transforma-se em mofo e, consequentemente, em um ambiente insalubre, além de foco de doenças. Uma casa sem ventilação nos trópicos é um lugar perigoso. Impossível, também em uma casa tropical, é a falta de iluminação. Luz natural é tudo de bom e, nos lugares com clima tropical, essa luz é igual a saúde da casa. A luz tem que ser dosada, estudada e bem aproveitada. A iluminação natural seca ajuda a tirar a umidade, protege a casa e ainda refresca quando a casa é posicionada de acordo com o sol.
Nós, arquitetos brasileiros, aprendemos a posicionar uma casa em relação à movimentação do sol. Sabemos que o norte / sul / leste / oeste são importantes para esse posicionamento. Para cada movimento do sol, uma sombra positiva ou negativa em relação aos espaços da casa. A localização da casa no terreno, em relação ao sol, é fundamental, e, quando colocamos uma casa, temos isso em mente o tempo todo. Outro fundamento da casa tropical são os telhados e a altura dos pés-diretos; quanto mais altos, mais teremos uma casa fresca. A escolha dos materiais é muito importante também. Pela experiência, descobrimos que muitos materiais resistem e não absorvem calor, enquanto outros absorvem, além de não resistirem às temperaturas e à umidade dos trópicos. Apesar da nanotecnologia, que transforma a forma de um material se comportar, temos que observar o conforto visual. Alguns materiais, simplesmente, não transmitem uma sensação de frescor mesmo não absorvendo calor.
A casa tropical parece simples, mas requer conhecimento técnico e, principalmente, o reconhecimento da sua especificidade – não adianta tentar disfarçar que essa casa não está inserida em um contexto tropical. Não assumir o local da sua casa pode ser fatal. Uma casa que não está adaptada ao calor pode se transformar em casa inabitável na maior parte do tempo. Ainda bem que podemos recorrer às experiências mal-sucedidas dos nossos colonizadores e utilizar as que deram certo, como as lindas varandas, os pisos de cerâmica, os azulejos, os pés-direitos altos, os telhados ventilados e os porões que ventilam os pisos. As lindas casas coloniais, até hoje, fornecem-nos lições. A nanotecnologia ainda vai mudar muita coisa, mas, visualmente, a casa tropical que nos refresca é clara, ventilada, tem pés-direitos altos e é muito iluminada.