Veio a morte para a querida Rogéria na noite dessa segunda-feira, aos 74 anos, no Hospital da Unimed-Rio, na Barra. Depois de ser internada com infecção urinária, a atriz teve uma crise convulsiva e um choque séptico. Sempre dizia ao me encontrar: “Sou sua fã” – eu ria e repetia para ela a mesma frase. Em nosso último encontro, no Baile do Copa, em fevereiro deste ano, veio me abraçar, fez reverência ao meu chapéu com a frase “Foda-se” e, em seguida, falou: “De que adianta me montar inteira, e não sair na coluna da Lu Lacerda?” Respondi: “Rogéria, querida e generosa”. Rimos, procurei um fotógrafo e nos perdemos na multidão – nem chegou foto dela no dia seguinte.
Além de tantas coisas publicadas hoje com sua partida, quero lembrar que um dos orgulhos de Rogéria eram seus cabelos, certamente os mais bem escovados do Rio. Além de vedete, atriz e cantora, ela cumpria, no carnaval, um papel de destaque: era entrevistadora dos bailes, gays ou não, e a todos se dirigia sempre com muita diplomacia, sem deixar de lado o bom humor.
Foi, também, apresentadora dos concursos de fantasia, e era visível como se divertia com os nomes extravagantes das fantasias. Desempenhava essa função com muito desembaraço. Outro traço seu sempre foi o respeito que tinha por si mesma, a estima, o amor próprio. Na época do show dos Leopardos, quando dividia o camarim com vários rapazes atléticos e quase nus, a atriz estava sempre vestida com um robe. Passava o tempo fumando, antes de entrar em cena, em conversas bem tranquilas e amenas com o elenco masculino. Mais que tudo, todo mundo sabe, foi Rogéria quem conquistou, abriu, ampliou, o espaço do travesti no Brasil.
Pra onde foram aquele humor, aquela irreverência, aquela alegria?