Em acordo de delação premiada definido com o Ministério Público Federal, o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura vai pagar multa de R$ 3 milhões, cada um, até o dia 2 de junho. Nesta primeira fase, os dois vão passar um ano e meio em prisão domiciliar fechado, ou seja, sem poder sair de casa, em Camaçari, na Bahia. Não precisa ser como na música: discos-e-livros-e-nada-mais, de jeito nenhum!
A casa não deve ser uma casinha qualquer, certo? Como transformar isso em momentos menos torturantes, digamos assim, levando em conta que, com eles, dinheiro está saindo pelo ladrão (sem duplo sentido, por favor!). Uma boa cozinheira é possível (o prazer da mesa), uma boa massagista é possível (o prazer do espírito), uma boa psicanalista é possível (o prazer do auto-perdão), uma boa academia é possível (o prazer de cuidar dos músculos). Tudo isso na intimidade do lar!
E aí segue: sexo (sem problemas de consciência com o passado!); lençóis de mil fios e toalhas do melhor algodão egípcio (certamente o normal em suas vidas); mantinhas de cashmere (para o ar-condicionado a toda no calor baiano); obras de arte emocionantes nas paredes (dando um tom “tenho noção das coisas”); filmes bem escolhidos no telão (quem não precisa?); flores frescas fora, no jardim, e dentro, nos vasos de cristal; jantarzinho à luz de velas (francesas, que fique claro!); champagne bem gelado em eventuais momentos de tédio – enfim, essas “miudezas” essenciais, que não deixam de trazer um certo bem-estar. E, estando em casa, nem precisa ser tão às ocultas! Para o “clube dos Lava Jatos“, tudo isso é mais do que realizável; na verdade, uma verdadeira gorjeta.
O desprazer de viver entre quatro paredes (quatro é maneira de dizer) vai sendo dissipado; quando um dia a pessoa acorda, o tempo transcorreu. Aí, dá até pensar, sob aquele sol delicioso na pele, em braçadas na piscina, num momento de reânimo que só a natureza traz: “Ei, agora já pode sair, criatura!”, de si para si! E o melhor: com a sensação de ter pagado o que devia à Justiça, podendo levantar de novo, orgulhosamente, a cabeça, sem tornozeleira à vista (só aquelas para suspender a bunda), e, talvez, conclui: “Sabe que eu talvez nem me importasse de viver assim para sempre?”.