Laila Garin faz apresentação única no Rio, quinta-feira (11/05), do espetáculo “Saudades da Elis (As aparências enganam)”, com o maestro Wagner Tiso e o cantor e compositor Tunai, no Vivo Rio. Dois anos depois de viver a cantora Elis Regina no espetáculo “Elis, a musical”, com o qual ganhou nove prêmios – incluídos o Prêmio Shell, Prêmio APCA e Prêmio Bibi Ferreira – a atriz e cantora baiana tem, agora, o desafio de cantar o repertório da gaúcha do seu próprio jeito.
Entre muitas canções, Laila vai interpretar “As Aparências Enganam”, “O Bêbado e a Equilibrista”, “Maria, Maria” e “O Trem Azul”. A ligação com aquela que é considerada pela crítica uma das maiores cantoras da MPB não incomoda em nada a Laila, pelo contrário. “Elis é um espírito de luz que só me faz bem”, contou, explicando que participar do musical de Nelson Motta, dirigido por Dennis Carvalho, só abriu portas para sua carreira.
A primeira novela, “Babilônia”, onde interpretou uma mulher dedicada ao marido, o político corrupto vivido por Marcos Palmeira, só surgiu depois do espetáculo. Até janeiro deste ano, Laila trabalhou na sua segunda novela, “Rock Story”, vivendo um personagem que mexeu com o público, considerada vilã, por trair o namorado. No teatro, fez “Gota d’água [A seco]”, versão da peça de Chico Buarque e Paulo Pontes encenada só por ela e pelo ator Alejandro Claveaux, montagem com a qual ganhou mais quatro prêmios como Melhor Atriz.
Laila, na verdade, começou a estudar teatro aos 11 anos e tem uma longa estrada até agora – casada com o iluminador francês Hugo Mercier, ela já morou na França, onde estagiou por seis meses no conceituado “Théâtre du Soleil”. Este ano, também lançou seu primeiro CD: são muitos os talentos (além de ser gostosa, segundo ela mesma) dessa filha de mãe baiana e pai francês, que começam a ser descobertos pelo público.
Foto: José Luiz Pederneiras
Laila, em “Elis Regina, a musical”, você cantou tentando se parecer com ela. No show do dia 11, no Vivo Rio, você vai interpretar o repertório da Elis do seu jeito. Como é essa experiência, é mais confortável ser você mesma no palco?
“Para esse show não vou caracterizada – vou interpretar, sem obrigação de imitar ou representar. Nunca cantei no Vivo Rio, vai ser a primeira vez”.
Na época da temporada do musical, você se pegou alguma vez agindo como a Elis?
“Não me peguei agindo como a Elis. Você fica com a presença da pessoa na sua vida, mas tenho meu temperamento”.
A Elis foi uma das responsáveis pelo lançamento da carreira do Belchior. Ele fez parte da sua formação musical ou você teve outros cantores/compositores que tiveram mais importância na sua vida?
“Belchior não era o mais frequente lá em casa, mas a minha geração ouviu Belchior a infância inteira. Na minha opinião, Caetano, Gil e Milton são pessoas que é como se tivessem inventado algo, feito uma paisagem – antes deles não existia. A música ‘Como nossos pais’ mudou a vida de todo mundo, mesmo os mais novos. No musical, esse era um momento muito forte. O público não saía das cadeiras”.
Você começou a estudar teatro aos 11 e canto lírico aos 13. Sua mãe, que era produtora cultural, queria te preparar para ser artista profissional?
“Minha mãe produziu alguns espetáculos de dança, sempre vivi rodeada de artistas. Ela achava que arte era importante na vida das pessoas. Fez parte da minha formação como ser humano. E sempre fui livre pra escolher”.
Como artista que veio do teatro, você pensava em fazer novela? O que foi mais difícil na sua adaptação de um meio para o outro?
“Não foi fácil, estou aprendendo. No teatro me sinto em casa, é como se fosse diferente, mas sendo a mesma coisa. Na TV leva um tempo pra gente esquecer o entorno e se dedicar realmente à interpretação”.
Você defendeu sua personagem em “Rock Story”, que o público viu como vilã por trair o namorado. No que mais na vida deve-se dar uma segunda chance a alguém?
“Devemos sempre dar uma segunda chance, ou não se acredita que o ser humano possa se transformar. A personagem teve uma segunda chance, mas não resistiu. Quem não tem uma paixão patológica? Se não é patológica, não é paixão”.
Seu pai é francês e seu marido, também. Você é muito ligada na cultura francesa?
“Sou e estou meio triste com o resultado do primeiro turno. Vou deixar minha procuração pro meu marido votar pra mim, voto Macron, contra a Le Pen. Não os escolheria, mas não tem jeito”.
Você já deu declarações de que não é obcecada por beleza física nem juventude. Como é lidar com essas questões no meio artístico? Você se sente cobrada nesse sentido?
“Não me sinto cobrada, no teatro a liberdade é grande, é tudo artifício. Na TV, nunca fui escalada pra ser gostosona, mas sei que sou gostosa, quero dizer, que tenho um corpo legal, mas não é a primeira coisa que veem em mim”.
Fala do Rio, que virou sua cidade…
“Tenho muito amor pelo Rio, que me acolheu, moro aqui há sete anos. Antes de morar sempre ouvia falar de violência, tudo que dizem é verdade – essa crise deveria estar escondida. Acho muito burguês falar dos assaltos, por exemplo. Quem é rico é muito rico, quem é pobre é muito pobre”.