Segundo a página do Facebook “Onde tem tiroteio – RJ”, o Estado do Rio teve, nessa terça-feira (24/01), 10 tiroteios e dois arrastões. Em janeiro, já somam 324 os tiroteios e disparos, mais 15 arrastões. Além dessa contabilidade, a OTT avisa os locais onde estão acontecendo os conflitos, com, no máximo, cinco minutos de atraso, segundo o seu criador, o petroleiro Benito Quintanilha. “Tem dias que não damos conta de tanta informação, deixamos até o nosso lazer de lado para alimentar a página” diz Benito, que conta com a colaboração voluntária de três amigos (Henrique Caamaño, Dennis Coli e Marcos Vinicius) para postar os registros, lidos por mais de 15 mil seguidores.
Como surgiu a OTT-RJ?
“Criei para ajudar amigos, eu fazia esses avisos de tiroteios na minha página pessoal no Facebook, mas em janeiro de 2016 decidi divulgar para mais pessoas e fiz a página Onde Tem Tiroteio-RJ. É inadmissível a gente pagar altos impostos e morrer vítima de bala perdida, vivemos um clima de guerra civil no Estado do Rio. A página explodiu, fiquei com medo de ser mal compreendido, mas nosso intuito é ajudar, tirar as pessoas das rotas de conflito armado. Como sou petroleiro, nos períodos em que ficava embarcado não publicava nada, mas, então, chamei três amigos para colaborarem”.
Como obtém as informações? Tem como checar a veracidade?
“As informações vêm de pessoas que moram nas comunidades, grupos de bairro, alguns grupos de policiais, elas formam nossa teia de informação. Nosso foco são as áreas de maior conflito, como o Chapadão, o Juramento, o Complexo do Alemão, mas também noticiamos casos na Zona Sul, Zona Norte. Em menos de cinco minutos já consigo confirmar e jogo na internet. Temos 15 mil seguidores no Face, mas o nosso alcance vai a 260 mil pessoas”.
Alguma vez já se sentiram ameaçados por alguma postagem?
“Nós nunca fomos ameaçados, a notícia que damos protege tanto a família do policial quanto a do bandido. Nossa meta era sermos inseridos no Waze, que não consegue detectar as zonas de conflito armado na cidade. Aí, o resultado seria muito mais dinâmico do que temos hoje”.
Você e os demais administradores contam com algum patrocínio, retorno financeiro?
“Por enquanto, é tudo no amor. Gastamos de seis a oito horas por dia na frente dos celulares, no computador. Fomos procurados por empresas privadas nas áreas de petróleo e gás, interessadas em fazer com que os motoristas dos executivos consultem a página. Já estamos atuando no Rio Grande do Sul, com um grupo de Whatsapp experimental e em São Paulo também. Nossa vontade é lançar um aplicativo, mas precisamos de investidores”.
Não teve um só dia sem tiroteio no Rio desde que a página foi para o ar?
“Todo final do dia temos um balancete: são, em média, 17 tiroteios no Estado. Fazemos, também, uma contabilidade mensal e anual. Já ficamos sem arrastão, mas nunca tivemos um dia sem tiroteio. Neste verão, estamos recebendo muitas solicitações para indicar arrastões nas praias, o que ainda não fazemos”.
Você vê relação entre essa violência urbana e o declínio das UPPs?
“As UPPs não deram certo, elas fracassaram no seu intuito; elas focaram só na retirada do fuzil das comunidades, não prestaram serviços para os moradores. Temos, nas favelas, armas que dão 500 tiros por minuto, nas mãos de bandidos e de traficantes menores que são influenciados pela convivência com o tráfico. O chefe do tráfico ainda é o exemplo para o jovem da comunidade. No dia em que as políticas públicas entrarem nas favelas, essa violência diminui”.