Em 1994, ano da minha formatura em Comunicação Social, na faculdade, a monografia virou o livro “131 Posições Sexuais”, com pessoas conhecidas falando suas posições sobre o assunto. Tendo ficado animada com o resultado, resolvi escrever outro, na mesma linha, o “Tudo que eu já fiz por dinheiro” (Editora Objetiva), em 1997, ou seja, há 19 anos, também com depoimentos sobre o tema, entre elas, o então presidente da Assembléia Legislativa do Rio, Sérgio Cabral. Algumas palavras ditas, há tantos anos, parecem até premonitórias – hoje, o ex-governador vive momentos tenebrosos no presídio de Bangu – é deplorável! Seguem suas palavras, na íntegra:
“O dinheiro é um pouco amigo-da-onça. Quanto mais precisamos, ele se faz ausente e desaparece sem deixar qualquer sinal. São nesses instantes que percebemos a força, o poder e principalmente a necessidade do cobiçado papel. Há quem tenha surpreendente tranquilidade diante da carência da grana, como o meu pai, por exemplo.
Certa vez, numa fase dura da nossa vida familiar, senti o seu desespero ao receber um amigo acompanhado do pequeno filho. Cabral queria de alguma maneira oferecer algo ao garoto. Acontece que nossa geladeira assemelhava-se aos grandes latifúndios: um vazio só. De repente, minha irmã, Claudinha, desfila pela sala saboreando um tomate. Foi a senha para ele sair em disparada até a cozinha gritando: “Um tomate, vamos oferecer um delicioso tomate para essa criança.”
Uma vez, meu pai me confidenciou que não trava uma boa relação com dinheiro. Sua justificativa é bastante compreensível. Há alguns anos, em consulta a uma cigana, meu pai descobriu que morreria rico. Como morrer não faz parte dos seus planos, ele gasta todo o dinheiro que lhe chega as mãos. Livrar-se do dinheiro passou a ser seu passaporte para longevidade.
Comigo as coisas funcionam de forma diferente. Sou do tipo que procuro na medida do possível evitar apertos. Aprendi que o dinheiro é traiçoeiro e gosta de nos pregar peças. Numa viagem a França, em 1989, após participar de um seminário dos Albergues da Juventude, cheguei ao aeroporto Charles de Gaulle como um bom turista – malas cheias e bolsos vazios. Não havia como ser diferente.
Missão cumprida, bastava embarcar e aterrissar na boa e velha terrinha. Para que guardar francos?
Minha lógica foi pelo Sena abaixo tão logo um funcionário da companhia aérea anunciou o cancelamento do voo por excesso de passageiros. Jamais esquecerei o sentido da palavra overbooking. Desesperado juntei meu protesto ao de outros passageiros reivindicando que a empresa tomasse alguma providência. Afinal, como iria sobreviver até o dia seguinte completamente duro? Foi quando o desespero se transformou em ironia. Atendendo nossas reivindicações, a empresa não apenas hospedou-nos no Meridien parisiense como ainda nos ofereceu uma diária em dinheiro. De uma hora para outra, o amigo traiçoeiro apareceu aplacando o terror e ainda me fazendo companhia em mais um dia em Paris.”
P.S: Não existe mais à venda!