Miguel Falabella estreia dias 1º e 2 de outubro, em Niterói, no teatro Abel, a peça “God”, que o The New York Times achou “deliciosamente, divinamente engraçada”. O espetáculo de David Javerbaum foi estrelado, na Broadway, por Jim Parsons, o Sheldon Cooper da série “The Big Bang Theory”. Como o nome indica, Falabella vai fazer o papel de Deus, um Deus, segundo ele, “engraçado, amoroso e neurótico”. A montagem segue por algumas capitais e chega a São Paulo dia 17 de novembro. Na cidade carioca, só em 2017.
Por falar em séries, Miguel, que já escreveu e dirigiu os sucessos “Sai de Baixo”, “Toma lá dá cá” e “Pé na cova”, está com outro projeto em produção: “Brasil a Bordo” conta a história da Piorá Linhas Aéreas, que tem como slogan a frase “Prefere ir de ônibus?”. No elenco, Arlete Salles, Luís Gustavo, Stella Miranda, Dani Calabresa, Mary Sheila, Magno Bandarz e Niana Machado, a Babá de “Pé na Cova”.
Como se não bastasse, o artista nascido na Ilha do Governador está saindo do seu apartamento na Lagoa, que vai passar por uma obra longa. Enquanto isso, ele se instala no Itanhangá, onde tem casa. Tudo sem perder o humor, a autenticidade, a inteligência, a alegria, o coração pra lá de generoso – que o digam seus amigos, ou mesmo aqueles que nem são tão próximos assim. (Foto: IG).
É verdade que a série ‘Brasil a Bordo’ sofreu mudanças por causa da crise? Quais foram?
“No original, cada episódio se passaria num Estado, mas foi falta de tempo, mesmo. Se tiver uma segunda temporada… Estou muito feliz com o resultado conseguido. É uma família que quebra – eles se acabam, vivem nos escombros, é como o Brasil, uma obra com um bando de alucinados”.
Então a Piorá Linhas Aéreas é uma metáfora do país neste momento?
“É uma metáfora do Brasil, com certeza, tem tudo dentro do avião, até arrastão”.
Vocé é uma pessoa que prefere não se pronunciar politicamente?
“Tudo que tenho a dizer, falo no meu trabalho, o meu universo é formado pelos que, de alguma forma, estão à margem. Colocá-los no protagonismo é um ato politico. Se ‘Pé na Cova’ era a comédia da tolerância, ‘Brasil a Bordo’ é a comédia da intolerância – é um dando na cara do outro”.
No enredo de ‘Brasil a Bordo’ Ney Latorraca vai ser um comandante que se relaciona com uma boneca inflável. O que você acha de quem só transa com a ajuda de brinquedinhos sexuais e outros estímulos do gênero ?
“Ele tem três bonecas infláveis, uma delas é a cópia da mulher do Donald Trump. A linguagem é muito moderna, muito viral. Mais atual impossivel, eles se filmam o tempo inteiro. Sobre brinquedos sexuais, acho que cada um deve fazer o que quiser, a vida não tem retorno, se não fizer o que tem vontade, vai passar o tempo vivendo a vida dos outros”.
As séries americanas têm um público imenso no Brasil. Você acha que os roteiristas brasileiros ainda têm muito a aprender?
“Temos muito a aprender, mas temos estrutura, às vezes falta diálogo, mas a gente sempre acaba surpreendendo. É preciso lembrar que a TV aberta tem vários níveis de leitura. ‘Brasil a Bordo’ tem diálogos maravilhosos e, modéstia à parte, divertidos”.
Você está prestes a estrear a peça ‘God’. No texto da peça, Deus diz que gosta muito de celebridades, por terem muito em comum com ele. Acha que é difícil para o artista não ficar deslumbrado pela fama?
“Vi a peça na Brodway e fiquei encantado; vi, depois, em Portugal, e achei maravilhosa também. Quanto à fama, é uma consequência. Eu, por exemplo, nunca atraí o time de fã inconsequente, porque nunca fui galã – são pessoas que têm algo a trocar comigo. Tenho grandes amigos que começaram como admiradores. Minha relação com o público é muito adulta. Outro dia, uma menina de oito anos olhava pra mim e achei impossível que com essa idade ela conhecesse meu trabalho. E a garotinha falou: ‘Sei quem você é, te vejo no Viva'”.
A propósito, qual é a sua ideia de Deus?
“Não acredito na figura de barba branca, isso, não. Sei que Deus está em nós, se não existe o divino, a pessoa está perdida. Acredito em neurônios-espelho, que é a capacidade de se colocar na posição do outro”.
[ O subúrbio, a Zona Norte do Rio, sempre está nos seus personagens e nas suas séries. Acha que se o Miguel Falabella tivesse crescido na Zona Sul seria diferente?
“O súburbio está no meu falar, no meu jeito, embora eu tenha tido uma formação intelectual, cresci vendo isso. Ter tido pais intelectuais e ter sido criado no subúrbio foi uma mistura que deu certo. Existe um olhar reflexivo e afetuoso sobre aquele mundo. Falo de cadeira, só escrevo sobre o que conheço”.
Qual é a vitamina que você toma para aguentar tanta coisa ao mesmo tempo?
“Minha vitamina é amor. Sou muito apaixonado pelo meu trabalho, é o que me move na vida. E adoro uma frase que tem no meu banheiro: ‘O riso é a gasolina do espírito’, da minha autoria”.