O nadador americano Ryan Lochte pediu desculpas em seus perfis nas redes sociais, nesta sexta-feira (19/8), como sabido, depois das baixarias de que foi protagonista no Rio, mentindo ao dizer que teria sido assaltado com mais três amigos nadadores. Desculpou-se por seu comportamento (a certa altura — movido pelo álcool, o que não o absolve —, agiu como um vândalo, chegando a quebrar objetos num posto de gasolina da Barra), mas não admitiu ter mentido, criado, inventado o falso assalto.
O nadador pediu desculpas também a seus patrocinadores, certamente temeroso depois de o repórter da ESPN americana Darren Rovell dizer que o atleta pode vir a perder alguns contratos milionários. Hummm! Será? Isso vai ficar registrado em sua carreira, nos Jogos Rio 2016, na cabeça dos brasileiros, tanto quanto nas histórias olímpicas, mas daí a cancelar patrocínio? Aguardemos qual será a punição para o grande nadador.
Pergunta-se: a dedicação exclusiva à prática de um esporte atrofia o cérebro dos atletas? Sobre a parte do marketing, o caso lembra, de alguma maneira, outros tão falados à época quanto esse: em 2005, ao ser flagrada usando cocaína, rolou esse mesmo papo com Kate Moss. Baixada a poeira (perdão pelo trocadilho), a carreira (perdão pelo trocadilho) da modelo subiu às nuvens, e foi onda (perdão pelo trocadilho) passageira essa história de que os patrocinadores cairiam fora. Muito ao contrário, seu cachê cresceu na mesma proporção do número de patrocinadores.
Outro exemplo aconteceu em 2014, na Copa do Mundo: quando o uruguaio Luis Suárez mordeu o zagueiro italiano Giorgio Chiellini, a alemã Adidas ameaçou suspender o patrocínio; claro que voltou atrás. Teria sido uma jogada malsucedida da empresa alemã.
Evidentemente, as histórias têm grandes diferenças: Moss só prejudicaria a si mesma com as drogas; Suárez agiu sem premeditar (o que pode acontecer a qualquer um, supõe-se); já Lochte prejudicou a imagem de uma cidade, tão vulnerável e fragilizada quando o assunto é violência. Daí a retirarem os patrocínios de uma grande estrela das piscinas, há um oceano.
E outra: muitos estão sentidíssimos por Lochte ter subestimado o “profissionalismo” dos bandidos cariocas, achando que deixariam os quatro partirem sem um arranhão naqueles corpões que Deus lhes deu! Essa parte para os malandros cariocas é tão imperdoável quanto a mentira é para os americanos! O bestalhão nunca imaginou que a história chegaria a essa dimensão, apenas usou uma desculpa à mão! Seria como se, estando em Paris, alguém dissesse que fechou o metrô por uma suspeita de bomba, apelando para uma razão que encobrisse uma falha qualquer; ou, em Atenas, inventasse que pegou um protesto na rua. Coisas tão comuns nessa cidades quanto a violência no Rio — isso, ninguém pode negar.
Lu Lacerda