Caixa do governo quebrado, qualidade do ensino em discussão, professores em greve e alunos ocupando as escolas. Com esse cenário, era difícil encontrar alguém disposto a assumir a Secretaria Estadual de Educação. Mas Wagner Victer não pensou duas vezes: ex-presidente da Cedae e da Faetec, tomou posse no cargo poucos dias depois do pedido de exoneração do secretário Antônio Neto. Aliás, Victer é sempre lembrado em momentos de crise, por sua habilidade como gestor técnico.
Nascido na Ilha do Governador, ele é formado em engenharia pela UFRJ e em administração de empresas pela UERJ, pós-graduado em finanças pela Fundação Getúlio Vargas e em gerência de projetos pela Universidade de Harvard. Também já trabalhou no grupo Gerdau, na Light e na Petrobras. E na é a primeira vez que participa de um secretariado estadual: já foi secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio. A quem duvida de sua afinidade com o tema educação, Victer tem no currículo atuações como professor nos cursos de pós graduação da Fundação Getúlio Vargas, do COPPE e da Universidade Estácio de Sá. Sempre falante e expansivo, Wagner Victer é, ainda, pai do Francisco, de 15 anos, e torcedor doente do Fluminense.
Qual seu ânimo com a Secretaria de Educação? É mais fácil ou mais difícil do que imaginamos?
“Estou orgulhoso de ter recebido o convite do governador Dornelles. É um grande desafio e certamente vou enfrentá-lo com bastante vontade. Como Secretário de Energia consegui implementar o programa de eletrificação rural do Estado que tinha 60% de propriedades sem luz, implantar o GNV que era incipiente, reabrir todos os estaleiros do Estado, transformar o Rio de Janeiro de importador de energia elétrica para exportador, atrair grandes empresas para o Estado, as maiores aqui instaladas depois da Petrobras. Na Cedae eliminamos em 95% o problema de falta d’água nas favelas, em municípios que historicamente eram os piores como São Gonçalo, Nilópolis, Queimados e triplicamos o tratamento de esgoto na Baía de Guanabara, além de pegar uma empresa que gerava um déficit de R$ 30 milhões mensais para 8 anos de lucros seguidos, rating Standard & Poor’s aa e uma empresa moderna e com uma sede que nunca teve. Na educação é um novo desafio, pois mexemos com a vida, o presente e o futuro de centenas de mulheres, de jovens e famílias. É um trabalho que requer muito planejamento e dedicação.
A Secretaria está fazendo alguma gestão junto à Secretaria de Segurança para que episódios de ação violenta por parte dos policiais, como o acontecido na desocupação do prédio da Secretaria, no dia 21, não voltem a acontecer?
” Todo trabalho é feito dentro do colegiado de Secretarias, atentando para especialidade de cada uma delas, o estrito cumprimento da lei e a manutenção permanente do diálogo”.
Como a Secretaria de Educação está dialogando com os estudantes? Existe uma liderança no movimento, no Rio, ou cada ocupação é um caso à parte?
“Estabelecemos um diálogo através de reuniões quase que diárias mediadas com a Defensoria e Ministério Público, mas cada escola tem um diálogo local e específico e, desde que assumi, 10 escolas já foram desocupadas, todas através de diálogos e compromissos que são cumpridos”.
Algumas reivindicações dos estudantes podem ser atendidas de imediato?
“Claro, muitas reivindicações são legítimas e já foram e estão sendo atendidas, como por exemplo, reformas emergenciais nas unidades que se desocupam.
Que tipo de formação educacional gostaria para seu filho? Acha bom que ele estude numa escola pública ou é um risco?
“Meu filho tem 15 anos e estuda em uma escola pública. Não tenho preconceito com escola pública, muito pelo contrário, considero que pode ser de qualidade e eu mesmo estudei em escola pública no antigo primário e o ensino médio e superior”.
Quando acontece algo com outras crianças o senhor consegue avaliar como se fosse seu filho?
“A minha grande preocupação é que todos os meninos tenham através do diálogo e de ações o seu melhor caminho, baseado na educação. Não só aqueles que legitimamente muitas vezes ocupam unidade, mas também aqueles que querem a escola liberada para que possam ter aula e continuar cursando. É algo que tenho muita sensibilidade, aliás, meu penúltimo livro, feito há dois anos, quando ainda estava à frente da Cedae, foi um livro especialmente para jovens e alunos, chamado “Cartas a um jovem engenheiro”, publicado pela editora Elsevier – e ali minha posição é muito clara. Não falo na teoria e da boca pra fora, é minha prática de vida. Sou criador de diversas instituições de ensino que hoje são uma realidade, como o laboratório de engenharia de petróleo de Macaé, LENEP, que viabilizei seu prédio novo com o professor Carlos Dias, a UEZO – Universidade Estadual da Zona Oeste, que criei com o professor Vanderley de Souza, e o Centro Tecnológico de Paracambi, pertencente à FAETEC, que desenvolvi com o professor Vanderley de Souza e o então prefeito André Ceciliano. Durante cinco anos fui diretor da Universidade Estácio de Sá, organizando os cursos de Engenharia e de tecnólogos em diversas áreas.