O que é um casamento?
Para que haja um casamento é preciso, antes de tudo, um laço de cumplicidade entre os dois; cumplicidade de almas, indestrutível.
Além da energia, a palavra é um dos mais fortes meios de comunicação e expressão do que se passa no íntimo de uma pessoa. Costumamos usá-la para expressar nossas ideias e pensamentos, e também como proteção para não deixar visível a fragilidade de nosso ego bem escondido, e protegido pelo orgulho.
Vejo completos desconhecidos vivendo juntos por longos anos sem que um jamais haja tocado a alma do outro – e é no conhecimento do íntimo da alma que começa o caminho para a cumplicidade.
A amizade, o respeito, o carinho mútuo transformam a relação sexual em um momento de troca de amor muito mais intensa e gratificante do que a simples “atração física”, que nada mais é que a supervalorização da química, em detrimento do sentimento profundo. A necessidade de auto-afirmação, de nos provarmos (a nós mesmos e ao outro), gera a competição, e enquanto existe a competição entre um casal, o que é muito mais comum do que se pensa, é impossível existir cumplicidade.
E o que é cumplicidade? Conhecimento e aceitação das fragilidades mútuas, apoio sem cobranças! Por que não aceitar o outro como ele é? Há muitas pessoas que confundem “aceitação” com “conformismo”.
Costumo usar em meus cursos um texto que explica:
ACEITAÇÃO:
É um ato consciente que sai da força do próprio ego; ocorre através do uso do livre-arbítrio, que escolhe arquivar os velhos sistemas de crença para permitir que novas ações entrem nele mesmo.É o começo da liberdade. No dicionário, a palavra vem seguida da definição:
Ato ou efeito de aceitar. Acolhimento, receptividade. Concordância, anuência. Aprovação, aplauso. Respeito, consideração.
Aceitar: ( Do lat. acceptance.) Consentir em receber ( coisa oferecida ou dada ). Estar de acordo com. Chamar a si, atribuir-se; dar crédito a, ter como bom, como certo, como verdadeiro, acreditar, admitir, reconhecer.
O negativo seria a conformação:
CONFORMISMO:
É uma ação passiva que implica a renúncia a qualquer responsabilidade por seu próprio comportamento; é um ato de escravo que surge da debilidade e da falta de forças do ego. É o desejo de que alguém faça por você. Como é possível uma relação profunda entre duas pessoas que se propõem a viver juntas sem a aceitação?
Recomendo aos que pretendem se casar, que antes verifiquem se existe a aceitação, do contrário, inevitavelmente virão as cobranças, a culpa, a raiva e a vingança: o fim. Em verdade, quando apaixonados, criamos um ser inexistente e projetamos esse ideal em nosso companheiro, exigindo uma adaptação dele a esse papel. Diante da impossibilidade dessa correspondência, nos frustramos e o culpamos por esse engano.
Ouço, também, muitos casais se queixarem da falta de interesses comuns aos dois, e não é isso o importante. Se houver cumplicidade é até saudável ter interesses distintos, pois é o “diferente” que enriquece a relação através da troca de experiências diversas. O igual gera a monotonia e a estagnação.
A maioria dos casamentos pode ser refeito, se apenas um dos dois adquirir sabedoria. Normalmente, existem poucos aspectos incontornáveis que levam ao término de uma relação. Até a entrada de um “terceiro” sob a forma de uma paixão (química orgânica apenas), pode ser contornada sem a perda do amor.
Vejo muitos homens e mulheres divididos entre o amor pelo companheiro e a paixão por um terceiro. Nas mentes mais radicais esse tipo de divisão não é aceita, mas na realidade é muito mais comum do que pensamos, já que a paixão nada mais é que uma explosão de química que dura muito pouco tempo, principalmente se for vivida. Na sociedade monogâmica que criamos, esse tipo de “acidente” não é permitido, e costuma ser encarado pelo outro como uma traição, ofensa, rejeição irreparável. Orgulho ferido.
É o sentimento de POSSE, unicamente cultural, que impede, sendo o gerador de outra emoção violenta e distorcida, causadora de desentendimentos, injustiças, separações e às vezes até a morte: o ciúme.
O ciúme nada mais é que a incerteza da posse. Por outro lado, é impossível anos e anos de convivência com todas as dificuldades naturais de uma vida compartilhada, sem que haja por um momento sequer, uma atração idealizada por um terceiro. Platônica ou não! Não existe um “casamento”, tendo como base a posse. Como possuir outro ser? Como possuir seu coração, sentimentos, pensamentos? E o que adianta possuir um corpo “vazio” ao nosso lado? O que é mais importante: o orgulho ou a felicidade? A posse ou o amor?
Amor é liberdade, e não resiste à prisão…Quando existe a prisão/casamento é inevitável o padrão de cobranças mútuas, geradores de CULPA e, consequentemente, de RAIVA.
“Todo culpado odeia o culpador; todo rejeitado odeia o rejeitador!”O respeito pela individualidade do outro é fundamental em qualquer tipo de relação.Traição não é uma satisfação física passageira, e sim a mentira do sentimento, ou a falta de amizade, cumplicidade e respeito.
O distanciamento da alma.