Pedro Werneck lança, na terça-feira (12/04), no Salão Victoria, do Jockey Club da Gávea, o livro “O Improvável não é Impossível”, pelos 20 anos do seu Instituto da Criança. O prefácio do livro foi escrito pelo cineasta José Padilha, grande admirador e apoiador do trabalho de Werneck. Aliás, o reconhecimento ao IC é internacional: ele foi eleito uma das 100 melhores ONGs do mundo pela publicação suíça “The Global Journal”. O IC é o responsável por fazer a ponte entre empresas que querem ajudar – mas não sabem como – e quem precisa de ajuda. Antes de entrar no terceiro setor, Pedro começou a carreira como executivo na área comercial da SulAmérica, foi sócio-fundador das lojas Sandpiper, trabalhou com a família no Colégio Padre Antônio Vieira e, isoladamente, nas lojas Originallis e no turismo corporativo da Travel Line.
Em 1995, ele e o irmão Carlos Werneck leram uma notícia sobre a família de Flordelis, na época moradora do Jacarezinho, que, mesmo sem ter condições financeiras, abrigava na sua casa 40 crianças carentes, muitas fugidas do tráfico. Sensibilizado, Pedro começou a ajudar as crianças com depósitos mensais de R$ 800 – e começou, aí, a história do Instituto da Criança. Pedro continua acreditando nos pequenos exemplos. “Quando se trabalha a favor da vida humana, não importa se são muitas ou poucas; importa somente que são vidas”.
Quando começou a ajudar a Flordelis, tinha ideia de que ali surgiria uma nova etapa na sua vida? Alguma crença espiritual levou você a ingressar nessa área?
“De forma alguma poderia imaginar, naquela ocasião era sócio de uma empresa que estava em ascensão e apoiar a família da Flordelis foi uma forma de retribuir, um pouco, as condições que a vida me ofereceu. Embora tenha fé em Deus, o meu olhar para o próximo está relacionado ao fato de acreditar que, se temos saúde, alimentação, educação, bons relacionamentos e outros ativos que nos favorecem, devemos fazer uso deles também a favor dos que não têm essas mesmas condições”.
Como realmente o Instituto da Criança se concretizou em termos de empresa? Você teve algum tipo de orientação?
“A partir de 2008 foi possível a minha dedicação integral ao Instituto da Criança, podendo iniciar um processo mais consistente de gestão eficiente, buscando alcançar melhores práticas corporativas. Contamos com diversos consultores, de áreas distintas, que de forma voluntária nos auxiliam a elaborar os processos em todas as áreas do IC”.
É verdade a crença popular de que as pessoas com menos dinheiro são as que ajudam mais? Os ricos, em geral, são mais sovinas? (rs)
“Na minha opinião, não é verdade. Isso porque conheço pessoas generosas e pouco generosas nas variadas classes. As pessoas podem surpreender quando descobrem a alegria que a sua generosidade pode trazer. O doar é um ato inverso: ao se oferecer algo, recebe-se em troca a percepção de que somos úteis por servir, como meio para promover a vida de alguém que, simplesmente, não consegue caminhar sozinho”.
Nesses 20 anos você deve ter visto e vivido muitas histórias emocionantes. Tem alguma em particular que gostaria de contar?
“É difícil destacar apenas uma, mas não esqueço quando apresentamos, em 1997, para a Flordelis, uma menina de quatro anos que sofria sequelas por conta de uma meningite. Ela estava interna numa casa com mais de 30 crianças vítimas de paralisia cerebral e Flordelis, sem hesitar, me disse: ‘Vamos levar lá para casa, vai ser melhor para ela”, sendo que na sua casa já havia 40 crianças. O detalhe é que ela tomou essa decisão sem consultar o marido, me disse apenas ‘ ele vai compreender’ e, assim, sucedeu. Ao saber, o pastor Anderson imediatamente acolheu a ideia da Flor. Naquele dia, vi as crianças receberem essa menina, abraçando e sorrindo, entendendo que era mais uma que estava sendo levada a ter uma nova condição, sem se preocuparem que ela iria dividir a mãe, a comida, o espaço e tudo mais”.
Nem todo trabalho no terceiro setor é de voluntariado. As pessoas, no Brasil, têm dificuldade de entender que esse tipo de trabalho também tem que ser remunerado?
“Acho que essa cultura do reconhecimento ao trabalho social merecer ser remunerada normalmente. O setor privado está, pouco a pouco, ingressando na sociedade de uma forma bastante clara. Afinal, só profissionalizando para avançar consistentemente nas transformações sociais e atrair talentos qualificados para evoluir o setor”.
Como andam as doações em tempos de crise? Você tem usado argumentos mais fortes para tentar convencer as pessoas a ajudar?
“Vivemos um período de grandes dificuldades, se é difícil vender produtos tangíveis como roupa, alimento ou educação, imagina promover a doação, onde não se materializa a aquisição. Por isso, o IC procura pulverizar suas campanhas, em busca de mais pessoas que façam micro doações”.