Claudia Matarazzo nasceu numa família conhecida e tradicional de São Paulo, mas sempre considerando a simplicidade e informalidade, ou seja, o melhor. Jornalista, especializou-se na área de cerimonial, mas continuou fiel a seus conceitos de praticidade: curiosamente, três dos seus 16 livros têm a expressão “sem frescura” no título – “Amor sem Frescura”, “Casar sem Frescura” e “Etiqueta sem Frescura”.
É, também, uma pessoa que sabe rir de si mesma (um dos maiores bens na vida – é ou não é?): em 2007, no gestão de José Serra, assumiu a Chefia do Cerimonial do Governo do Estado de São Paulo, onde esteve à frente de recepções para Chefes de Estado, jantares oficiais e outros eventos do governo e, inclusive, recepcionou o Papa Bento XVI. As aventuras desse período estão registradas no livro “Gafes no Palácio”, onde ela conta com todos os detalhes os micos que cometeu nos bastidores do poder.
Como jornalista, recebeu o Prêmio Abril por seu trabalho na “Revista Casa Claudia” e lançou os suplementos de moda masculina na “Vogue” e na “Playboy”. Também já foi apresentadora de TV, na Cultura e na Gazeta, e até se lançou como cantora: ganhou o título, em 1987, de cantora Revelação, no Prêmio Sharp de Música.
Mas o que gosta mesmo de fazer é viajar por todo o Brasil dando palestras e dicas sobre moda, etiqueta, eventos e casamentos – ou seja, ensina a elegância sem ostentação, coisa que para ela sempre foi muito natural e autêntica.
Claudia, como você faria uma cerimônia de posse de Michel Temer caso o impeachment de Dilma seja aprovado pelo Senado? Cabe algum ar festivo?
“O momento é de sobriedade absoluta – uma cerimônia de posse no contexto atual implica respeitar o protocolo do decreto federal de nosso cerimonial, e mais nada. No mais, corre-se o risco de parecer (e ser) oportunista e cair numa armadilha de mau gosto. Por isso, nada de festa na posse”.
Que cuidados um casal da política precisa ter?
“Acredito que, basicamente, os mesmos que um casal comum, ou seja: a postura quanto mais discreta, melhor para todos. Ocorre que hoje há uma superexposição natural por conta de tecnologias e redes sociais. Em um casal do mundo político, essa atenção à discrição tem que ser triplicada.
O fato de serem figuras públicas os expõem mais do que as pessoas comuns, daí a necessidade de atenção e mais rigor, uma vez que qualquer descuido se reflete em progressão geométrica, para o bem ou para o mal”.
A provável futura primeira-dama, Marcela Temer, já foi apontada como bela, recatada e do lar, o que leva a prever que ela não vai querer se expor muito. O que uma primeira-dama não pode, de maneira nenhuma, se recusar a fazer e qual seria o oposto, o que jamais deve deixar de fazer?
“A figura de primeira-dama,tal qual a entendemos em nossa cultura e em nossa política, precisa ser reavaliada. Quando a presidente ou primeira-ministra de um país é uma mulher, ninguém espera que seu marido assuma atividades inerentes ao título de ‘primeiro-cavalheiro’.
De maneira que está na hora de as mulheres de nossos mandatários terem a alternativa de assumir seu estilo de vida com mais independência. As mulheres têm muito mais a agregar se tiverem mais voz para mostrar como e com que podem colaborar de fato, em uma posição tão influente. Mais do que simplesmente ser um complemento decorativo ao cargo do marido.
É claro que espera-se delas uma postura coerente como mulher desse chefe de Estado, em eventos e viagens oficiais. Porém, insisto: cada uma tem um estilo e uma dinâmica de casal, um tipo de preparo e uma expectativa completamente diferentes que devem ser respeitadas sem cobranças. Até porque o que interessa para a nação é a administração de seu marido”.
Que sugestões você daria em termos de guarda-roupa para uma primeira-dama?
“Novamente esbarramos na questão do estilo: há as esportivas como Michelle Obama, as supersofisticadas como Jaqueline Kennedy e as discretas e clássicas como dona Ruth Cardoso.
Mas, de modo geral, uma mulher de presidente ou primeiro-ministro deve se apresentar sempre de modo discreto e, ao mesmo tempo, contemporâneo, sem ostentar demais, porém imprimindo uma identidade nacional ao seu visual – valorizando nossos estilistas e produtos.
Com um pouco de atenção, é mais fácil do que parece, principalmente se ela conseguir ser fiel ao seu próprio estilo e conforto, sem querer encarnar um personagem”.
O que fazer quando alguém descobre que seu amigo discorda totalmente em matéria de política?
“Se ele é seu amigo, não será por isso que deixará de ser. Política é apenas política – não deve ter essa coisa truculenta com polarização e paixões. Isso é coisa de futebol e, mesmo assim, de torcidas pouco civilizadas”.
Bloquear amigos no Facebook por causa de política pode ser considerado gafe, indelicadeza, ou o quê?
“Bloquear amigos, em si, não é coisa de amigo. É indelicado, sem dúvida, mas se o sujeito estava passando da conta é uma ferramenta como outras. Mas insisto que, antes de bloquear amigos por conta de política, é preciso baixar o tom e aprender a conviver com nosso voto – e o dos outros. Isso é democracia”.