De atrizes que cantam e dançam, não podemos nos queixar; mas são poucas as que também escrevem roteiros, peças e novelas. Suzana Pires está nesse time, além de ser produtora. A carioca também se destaca por ter uma formação universitária inusitada para o meio: é bacharel em Filosofia, pela PUC. Mesmo essa sua passagem acadêmica foi relacionada com a dramaturgia: da pesquisa de teatro e filosofia resultaram as montagens “O Banquete”, de Platão, e “Assim Falou Zaratustra”, de F. Nietszche. Resumindo: ela canta, ela dança, ela escreve, ela atua, ela produz…. fora o que a gente não sabe!
Mas nada disso pesa quando Suzana está representando. Aliás, a maioria dos seus personagens é de tipos bem populares, como a divertida baiana Ivonnete da novela “Caras e Bocas” (2009), que fez sucesso com o bordão “Não me absorva!”. Suzana também teve papéis em “Gabriela” (2012), “Araguaia” (2010), “Malhação” (2008), “Paraíso Tropical” (2007), e “Flor do Caribe”, em 2013, na qual atuou e trabalhou como co-autora; e, por último, foi a manicure Janete de “A Regra do Jogo”.
A comédia também é uma constante em sua carreira: além de ter escrito para o programa “Caras de Pau”, Suzana criou e atua no monólogo de humor “De perto, ela não é normal”, dirigida por Flávio Rocha, que vai ser levada para o cinema pela Globo Filmes. Na telona, seu currículo também é considerável: foi coprotagonista do longa “Casa Grande”, de Felipe Barbosa e trabalhou em “O Tempo e o Vento”, “Tropa de Elite”, “Loucas pra Casar”, “Polaróides Urbanas” e “Mulheres do Brasil”.
Fazer uma coisa só não é o perfil de Suzana. “Sempre escrevi estando no ar ou em cartaz com alguma coisa. Estou acostumada. Escrever é uma delícia”, diz. Recentemente, ela entregou à TV Globo a minissérie “Dama da Noite”, uma parceria com Walther Negrão, ainda sem previsão de ir ao ar. E já está escrevendo, ao lado de Negrão, também, e de Júlio Fischer, a nova novela das 18h, “Sol Nascente”. E outra: o melhor de tudo em sua vida, talvez seja a alegria, sem falar no talento físico – além de outros tantos. Leia sua entrevista:
Fala aí do seu momento atual…
“Meu dia a dia se chama ‘Sol Nascente’ (novela das 18h, programada para entrar depois de ‘Êta Mundo Bom’), é uma entrega completa. Escrever e atuar são as duas coisas que mais amo na vida; nunca tive dúvidas. A carreira de atriz aparece mais rápido do que a de autora, que é mais íntima. Agora, pra mim, as duas estão no mesmo pé. O Walther Negrão é um mestre e formou muitos autores, trabalhar com ele é ser discípula. Claro, puxando o que eu tenho do meu traço. E, claro, o Julio Fischer. É uma grande parceria mesmo”.
Você já colaborou com o Negrão em “Flor do Caribe”, onde também fazia a cigana Saphira. De que maneira consegue se organizar para fazer tanta coisa? Tem uma boa equipe?
“Desde 2010 tenho uma equipe, pequena, mas que hoje chegou à perfeição, funciona muito bem: empresário, secretário, assessora e uma pessoa para o trabalho de casa. Meu pai e minha mãe me ajudam a pensar o caminho da minha carreira; ela é advogada e ele, engenheiro. São meus espelhos.
Suzana, vocé é formada em Filosofia, mas tem na sua carreira tipos bem populares, como a manicure Janete, de “A Regra do Jogo”. A comédia “De perto ela não é normal” , que você escreveu e interpretou, tem um humor, também, bem direto. Como você explica essa união de lados aparentemente opostos?
“Tem uma característica minha, não gosto de me repetir. Se fica chato pra mim, imagina pro público. Começo assim: a Janete, por exemplo, é uma batalhadora e é esse o caminho dela. Existem coisas que o personagem carrega dentro de si, o público não vê, mas percebe. Cada personagem pode ser muito real. Escrevo da mesma forma, a mesma base de dramaturgia que uso para atuar, uso pra escrever. Durante um curso em Los Angeles aprendi a juntar as duas coisas”.
De onde vem sua inspiração para escrever humor?
“Vem rápido, da minha maneira de olhar a vida, da minha alegria (rs). É muito dificil me sentir derrubada. Quado fiz minha websérie, um dos maiores sucessos do Gshow, escrevi com dois parceiros, mas os personagens estavam praticamente prontos na minha cabeça. Pra você ter uma ideia, parei de dirigir pra não perder o momento que a ideia vem. Não deixo a inspiração pra lá; tenho caderninhos, prefiro assim.
Há pouco tempo você reclamou da cobrança do corpo perfeito feita sobre a mulher. Isso te incomoda muito?
“Com o meu corpo tá tudo certo, mas não vivo só pra mim (rs), vejo a ditadura da barriga chapada, da bunda na nuca, e mulheres insatisfeitas por não conquistarem esse padrão, muitas delas públicas, com um trabalho bacana endossando isso. Sou contra diminuir a gente, mulher, para um padrão de beleza. Saúde é diferente de obsessão”.
Como roteirista, você daria alguma dica para quem quer se dedicar a escrever? Tem algum livro que você recomenda? Onde está o primeiro passo?
“Tem que produzir o que escreve, tirar da gaveta. Pode começar na internet, levar pro teatro; abrir um caminho profissional é capinar um mato que tá fechado pra você. O artista deve ser empreendedor também. Não é fácil, mas é possível.
Como foi sua experiência em Sundance, no laboratório de atriz que você fez em 2008? Robert Redford era um homem ainda muito sedutor?
“Estive com grandes nomes. O Redford é dono e estava lá diariamente; me deu muita instrução, para como eu ia construir o personagem Sonia, do filme “Casagrande”. E o que mais gostei foi a simplicidade dele. Acaba que passamos a chamá-lo de Bob. É o artista que tá ali, querendo talentos novos o ano inteiro.
Pouco se sabe da sua vida amorosa. É uma escolha sua?
“Isso não é de interesse público (rs). Estou solteira, mas não estou sozinha. Sou discreta. Quando apareço com alguém é porque tá bem sério. Sou uma mulher de grandes amores, longos relacionamentos e de períodos solteira, também. Não acho que seja obrigada a ser um casal; não tenho problema nenhum em ir a um restaurante, uma festa, um teatro sozinha”.