Para todo brasileiro que gosta de ler e aprecia livros de arte, o nome Taschen soa como um parque de diversões das publicações impressas. Editor executivo da editora alemã, o carioca Julius Wiedemann publicou mais de 50 livros nos seus 13 anos na casa e foi o responsável por mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos.
Antes disso, Julius deixou o Brasil para morar no Japão, onde de desenhista passou a editor de arte de uma revista nipo-brasileira em questão de seis meses. Um pouco depois, na empresa de mídia Agosto, mergulhou na cena da arte digital oriental. Seu contato com o Benedikt Taschen, aliás, ocorreu muito por causa desse tema: em 2001, já trabalhava como o editor encarregado de assuntos digitais da editora em Colônia.
Atualmente morando em Cambridge, na Inglaterra, Julius coordena mais de 600 colaboradores em vários países, ama viajar, dar palestras e escrever. Sua verdadeira atividade é ficar ligado no que está acontecendo de novo e inspirador em design, cultura pop e digital em todo o planeta. Emprego dos sonhos de muitos, até porque ele se mantém ligado ao Rio, onde vem com frequência – e, a julgar por seu jeito acessível, não se deixou contaminar pelo estresse dos cargos que exigem uma grande responsabilidade executiva.
Você esteve semana passada no Rio, participando do Fórum de Ideias, Iniciativas e Registros Criativos. O que viu de bom em relação aos jovens designers brasileiros?
“O que temos no Brasil de melhor e de pior é que os recursos são escassos e, com isso, desenvolvemos uma flexibilidade enorme. Lá na frente, isso atrapalha como indústria criativa, para que possamos desenvolver projetos maiores. Mas os meios estão cada vez mais acessíveis, incluindo as últimas tecnologias. O laboratório de 3D do instituto Nacional de Tecnologia faz inveja a muita gente fora. Eu acho que demos uma passo a frente muito grande nos últimos 10 a 15 anos. A nossa conexão com profissionais de fora é enorme.
É possível para o estudante de design adquirir uma boa bagagem cultural sem sair do país?
“É, sim. O YouTube é uma das novas salas de aula, e é apenas um dos recursos. Harvard tem um programa enorme gratuito, Coursera também, entre muitos outros. Para qualquer coisa que queiramos aprender, é preciso tempo e dedicação. É claro que outros idiomas são fundamentais, e isso ainda é uma dos nosso grandes problemas. Apesar de eu viajar muito, eu consumo conteúdo avidamente. Eu continuo encontrando conferências e palestras antigas que ainda são relevantes.
É verdade que os designers nacionais são reconhecidos pela “alegria” dos seus trabalhos? A crise política e econômica brasileira já está afetando a maneira como nosso país é visto no exterior?
“A crise que temos não afeta nada ainda aqui fora, nesse sentido. E tem crise em toda parte hoje, dos imigrantes na Europa ao Trump nos EUA, do referendo na Inglaterra ao Panama Papers. Não falta crise no mundo, então a nossa acaba sendo apenas nossa, mesmo. E os profissionais brasileiros são muito reconhecidos pela capacidade de trabalho e de serem bons agregadores. Não parece algo importante, mas em ambientes de time, isso é fundamental. Nosso design é com frequência mais alegre, mas essa nem é nossa principal vantagem estratégica. Nossa flexibilidade de pensamento também conta.
Os livros da linha sexy são os que vendem mais? Depois dos títulos “O Grande Livro das Vaginas em 3D” e “O Grande Livro das Bundas em 3D” o que mais vai saltar aos olhos do leitor da Taschen (rs)?
“Essa pergunta é ótima, porque sempre pensamos que esses livros são todos bestsellers. Eles vendem bem, mas o Sebastião Salgado vende muito melhor. O que sempre caracterizou o nosso catálogo foi a diversidade. Estou trabalhando num livro enorme com a National Geographic sobre as melhores matérias já publicadas por eles e como melhor explicar o mundo”.
Que gênero de livro da Taschen vende mais no Brasil?
“Fotografia e arte são os livros que mais vendem. Como fizemos agora uma série de livros pra comemorar os 35 anos, todos no mesmo formato, fica mais difícil de dizer, porque essa série tem de tudo, de Van Gogh a Logo Design. É hoje o nosso carro chefe no Brasil, e demos o nome de Biblioteca Universalis”.
Quando teremos livros da Taschen em edições digitais?
“Nós tivemos alguns e ainda temos no iTunes, que são interativos e com alguns extras. Os livros digitais, porém, ainda tem um problema sério de aceitação dentro do mercado de arte. O livro impresso ainda exerce um grande domínio no nosso consciente coletivo. Mas essa transformação ainda vai ocorrer, seja em forma de livro digital ou em outro formato. Ainda precisamos de convergência de linguagem eletrônica, de software e de hardware.
O funk continua chamando a atenção para o Brasil, como você chegou a comentar poucos anos atrás?
“O funk ainda é uma grande atração e está influenciando sons pelo mundo. É um ritmo que vai se estabelecer como uma nova modalidade, e já estamos vendo os estrangeiros copiarem”.
Você foi criado em que bairro carioca? Que tipo de recordação visual guarda do Rio e procura manter na memória?
“Eu nasci no Rio, mas morei em muitas cidades… Nova Friburgo, Resende, São José dos Campos, etc. Saí do Brasil com 23 anos, e volto sempre. Minha família mora, agora, em Ipanema. Eu não tenho sentimento nostálgico com a cidade. Mas gosto de voltar sempre para poder ver como ainda posso contribuir.
O que está em alta no design internacional? Temos algum talento brasileiro brilhando no momento?
“Temos muitos profissionais fora que estão muito bem, em muitas áreas. Tem o Giovanni Bianco em Nova York, tem o Yomar Augusto em San Diego, a Chris Grether na Coca Cola em Atlanta. Não faltam cabeças brasileiras nas melhores multinacionais e nos maiores pólos criativos. Esta semana está acontecendo o Salone di Mobile na Itália e a presença brasileira é grande. A nova geração de designers no Brasil quer exportar, e essa é a novidade. Eles querem trabalhar no Brasil, mas querem também ter presença no exterior”.