Dele já se falou tudo. Que nunca existiu. Que era mulher. Que era um conjunto. Que tinha ghost-writer. A única coisa que não se pode dizer é que não teve o papel de fundador da Literatura, do Teatro, como entendemos hoje. É ele, o maior de todos os tempos, Shakespeare. O drama “Júlio César”, uma discussão sobre poder, fragilidade, violência, sentimentos travados, contenção, mas sobretudo uma aproximação sobre como se determina quem detém essa capacidade de dirigir destinos de quem o cerca e de pessoas a quem jamais viu e verá.
A transformação de Júlio César em “Caesar – Como Construir um Império“, com os atores Caco Ciocler e Carmo Dalla Vecchia, com direção de Roberto Alvim, transforma a polifonia do texto original, na qual cada personagem é encenado por ator diferente, em um diálogo tenso, cortante, em que os dois atores vão se revezando em todos os papéis. Esse jogo é apoiado pelo piano que funciona não como um background, mas como um subtexto que desenha a intenção de se acentuar o significado desse espetáculo em particular: a queda de braço.
A escolha do cenário, um chão de moedas, e da luz absolutamente escura e, por isso, sem espaço para qualquer sombra e dos figurinos negros, algo como cavaleiros de histórias em quadrinhos atemporais, são a marca de que falam da disputa entre dois homens. Pai e filho, irmãos, inimigos, amigos inseparáveis. Homens falando de como conquistar. Homens tentando ser maior do que os outros. Homens brigando pela sua potência. Homens querendo exercer em plenitude o poder que o falo masculino traz.
“Um Império se constrói com dinheiro e morte, e é o sangue que os conecta”, diz o diretor. Roberto Alvim faz uma opção que acentua esse significado: os atores possuem microfones. Esse recurso de reverberar a voz, de torná-la lenta e monocórdica da artificialidade da amplificação, faz com que essa montagem ganhe uma inserção na contemporaneidade. Nossa potência não reside em nós. Só acontece pela utilização de algum gadget, de alguma (?) que nos projete para fora de nós mesmo. Em Roma, era o sangue. No Facebook é a luta pela fugaz notoriedade, um poder de pequenos falos.
Serviço:
Espaço Sesc Arena
Sexta-feira às 20h30
Sábado às 18h e 20h30h
Domingo às 17h e 19h