Um dos mais recentes trabalhos do artista paulista Ivan Grilo é uma frase fundida numa placa de bronze que vai, certamente, ganhar a concordância de muita gente. Na placa, que estará na exposição que abre dia 17, na Casa França Brasil, está escrito apenas “Tempos Difíceis”. Explica o autor. “Ao mesmo tempo em que estanca e sinaliza o momento que vivemos política e socialmente – como se sinalizasse um monumento a esses tempos estranhos – a frase faz alusão a essas expressões que chegam prontas a nosso vocabulário, provavelmente herdadas do pessimismo português, e que, mesmo com pouca análise, concordamos e repetimos”.
Outro ponto alto da exposição, com curadoria de Pablo León de la Barra, é a obra “Cruzeiro do Sul” (1969-1970), muito destacada na carreira do artista plástico Cildo Meireles e exibida na importante mostra sobre ele que aconteceu, em 2008, na Tate Modern, em Londres.
Sobre essa peça, uma escultura minimalista, de 9 milímetros cúbicos, construída metade em madeira de carvalho e metade em pinho, criada para ser mostrada sozinha, numa sala grande, há muitas histórias. Uma delas aconteceu na própria galeria inglesa. Uma mãe entrou com um menino de quatro anos. De repente, o guarda do museu gritou: “Garoto, garoto!”. Mas já era tarde. O menino pegou a pequenina arte e … engoliu!
Para Cildo, a peça tem significado profundo: “Os brancos reduziram os deuses indígenas a um único Deus, o do Trovão, quando na realidade as suas crenças faziam parte de um sistema muito mais complexo, poético e concreto”. Ele acredita que o carvalho e o pinho, árvores sagradas para os índios, das quais é feita a madeira do cubo, representam essa complexidade.