Puxando pelos ataques sofridos por Taís Araújo nesse fim de semana, no Facebook, e lembrando que a também atriz Zezé Motta sempre foi vítima de racismo desde antes das redes sociais, ou seja, ali no cara a cara, resolvemos entrevistá-la para saber que palavras teria a dizer a Taís, a Maria Julia Coutinho, a moça do tempo do Jornal Nacional que foi duramente atacada em julho deste ano, ou a qualquer pessoa vítima de intolerantes revoltados (ou seja lá que nome tem essa classe).
Segundo a determinação, nesse domingo (01/11), do diretor do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), Ronaldo Oliveira, vai ser instaurado inquérito na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) para apurar o crime de racismo contra Taís.
Zezé, que ficou internacionalmente conhecida no filme Xica da Silva (1967), é há 40 anos militante do movimento negro e também é presidente de honra do CIDAN (Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro). Ou seja, melhor pessoa para falar, com conhecimento de causa, não há. (A foto é da Paula Klien, arquivo Site Lu Lacerda)
O que lhe vem à cabeça sobre o racismo?
“Fiquei pensando enquanto gravo essa novela sobre escravidão (para a TV Record), nas cenas tristes e violentas da minha personagem. Não preciso fazer esforço para chorar. Basta lembrar dessa violência contra o negro, parece uma luta sem fim. Uma época da vida eu pensava: ‘acabou a escravidão’ – que nada!”
O que pode dizer à Taís Araújo?
“Diria que tem que fazer o que ela fez: precisa denunciar, mas sem perder a ternura pra não virar guerra, ou vão jogar bananas de todos os lados. Quando pensamos que avançou, acontece outro fato e depois outro e depois outro. São pessoas invejosas e sem amor no coração. E também que toda pessoa que não é racista deve sofrer com isso. E ainda, que a dor do racismo não muda, segue igual. É igual a sofrer por amor, a gente acha que quando tiver com mais idade aprende, não, tudo se repete. É gastar nosso tempo lutando contra mesquinhos!”
Algum caso mais marcante que tenha te acontecido?
“Inúmeros casos, muitas vezes na vida. Pegando Salvador como exemplo e considerando que a Bahia é uma pequena África, lembro de dois. Estava numa festa com a Elke (Maravilha), de classe média alta, sem outros negros além de mim, começaram a perguntar por que eu estava ali, quem me levou? Um clima horrível. Noutra vez, estava na praia com Caetano (acho que era no Farol da Barra), passou um cara gritando “Pra quem será que ela deu pra fazer sucesso”? Eu estava vivendo um momento de exposição. O Caetano foi lá e enfrentou o cara, deu um passa-fora nele, que saiu com o rabo entre as pernas”.