Um dos comportamentos que governam os feriadões quando as pessoas sobem a Serra, ou vão para as casas de praia, ou entram nos seus aviõezinhos, ou pegam os carros ou ônibus com intenção de descansar, mudar de cenário ou o que for, com aquela sensação de não fazer nada, é quando mais se fala da vida alheia. Isso aparece em todas as classes sociais, não importando se estão instalados em suas casas espetaculares ou numa barraca de campo. A ponto de alguns voltarem até meio cansados (falar mal dos outros pode, sim, ser exaustivo). Se existe algo que consome energia é essa atitude; falam e, depois, pode vir o arrependimento. Com o corpinho relaxado nos lençóis de mil fios (não importa), naquela hora só você com você, pode causar um mal-estar, ainda que de leve, mesmo que não identifique a razão – um sono intranquilo, enfim. As palavras já foram ditas, já vibraram em todos que ouviram. Em muitas situações, a conta chega – e chega exatamente nesses momentos intimistas. Segundo a Cabala, a fofoca aumenta no mundo as doenças transmissíveis pelo ar. Traz danos a quem fala, a quem ouve e à vítima. E outra: viemos ao mundo com um número predeterminado de palavras negativas que temos permissão de usar; quando essa cota é atingida, a morte chega. Oi? É o que consta. Um pouco de hesitação, às vezes, pega bem – pense nisso antes de detonar. Claro que existem aquelas pessoas quase santificadas que têm sempre um elogio na ponta da língua para quem está ausente – nesses podemos confiar; se agem assim com outros, vai agir com você também. No burburinho do jogo, no burburinho do almoço, no burburinho dos drinques, surgem nomes, surgem maldades, surgem historinhas… É infalível. Quem nunca provou desse veneno?