Um mergulho é uma diferença no dia a dia; a maioria dos cariocas fala e sente isso, até porque é uma realidade. A água do mar tem o poder de fechar o campo magnético (que estabiliza as moléculas do corpo), afirmam alguns terapeutas; professores de Cabala ensinam que aqueles que mergulham no mar todos os dias dificilmente adoecem. Enfim, as vantagens de desfrutar do mar vão além das físicas. Mas virou um risco: ir às praias cariocas é expor seu corpinho ao perigo de levar porrada, arranhões, empurrões, pedradas e, claro, ser roubado, tanto em celulares, dinheiro, joias quanto no direito de ir e vir – isso também está sendo tirado das pessoas.
As cenas, inacreditáveis, que têm acontecido, mostradas na TV, chamam atenção dos turistas. “Um músico do Rock in Rio, hospedado no Fasano, em Ipanema, depois de ver vários assaltos na calçada e três arrastões, começou a jogar coisas lá de cima para tentar impedir, sem entender como ninguém fazia nada”, comenta a artista plástica Ana Luiza Rego, que ultimamente quando bota o pé na areia, é sob tensão. O cirurgião plástico Paulo Müller, que não pôde ir à praia em frente de casa, na Avenida Atlântica, no último fim de semana, comenta: “A desigualdade social é explosiva. Ao contrário do que afirmam que na praia está todo mundo junto, é bem ao contrário: está todo mundo bem separado.” A pesquisadora Laura Martins, moradora de Copacabana, comenta: “Fiquei ilhada em casa – é um desmando total, a cidade está apavorante”. Já uma escritora da Vieira Souto, que não quer seu nome publicado (tem gente com medo de tudo, até disso), afirma: “Não vai ter jeito, esses pivetinhos agem como um raio; a polícia não consegue acompanhá-los.” O quê? Não vai ter jeito, é isso mesmo?
Vamos supor que os governantes não estejam muito aí para quem paga imposto, os seja, os cidadãos locais. Mas não enxergam que o que sai na imprensa estrangeira é um “afasta-turista”? O turismo é porta de entrada de muita grana no Rio. No verão passado, entre dezembro de 2014 e março de 2015, foi um total de 3,464 milhões de turistas, uma renda de US$ 2,772 bilhões. Na temporada anterior, estes números foram de 3.256 milhões de visitantes e US$ 2,605 bilhões.
Se, agora, até o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, declarou ao O Globo que ordens judiciais têm que ser cumpridas, mas que a PM perdeu a prerrogativa de prevenção e que agora só pode agir depois do ocorrido, o que vai ser de nós, seu Beltrame? Não pode colocar mais polícia nas praias por quê? Ele se referia a Eufrásia Souza das Virgens, que entrou com pedido através da Defensoria Pública Estadual, levando a proibição de que a polícia apreenda adolescentes sem que haja flagrante. Depois desse fim de semana tenebroso, a cariocada está com o humor abaixo do nível do mar.