Primeiro foram os muros da cidade carioca, e a partir de 2011, galerias e museus do país começaram a exibir o traço inconfundível do grafiteiro Tomaz Viana, mais conhecido como Toz. Baiano de Salvador, desde cedo em contato com as artes – sua mãe fazia aulas de pintura e seu pai trabalhava com publicidade – Toz, ao chegar ao Rio, aos 15 anos, ficou tão maravilhado com a quantidade e diversidade de pichações que resolveu também fazer arte urbana.
Hoje, ele tem uma galeria de personagens conhecidos: o BB idoso, a doce Nina, o Shimu, o Julius, o Vendedor de Alegria, que carrega consigo bolas gigantes e coloridas, e o Insônia. Desde quinta-feira (10/09), os franceses também estão entrando em contato com o seu trabalho. A Prefeitura de Paris convidou Toz para transformar o visual do 13º arrondissement. Numa estação de metrô desativada, o personagem Vendedor de Alegria, com 5m de altura e a cabeça imersa em mil bolas de vinil suspensas, está chamando a atenção à distância.
Mas o grafiteiro já seguiu para a Suíça, para participar do Vision Art Festival, na cidade de Crans-Montana. Toz contribuiu com o festival ao ar livre pintando uma estação de esqui: visto de cima do teleférico, o caminho percorrido ganhou as cores vivas e as formas do artista. Saiba como está sendo essa passagem do Toz pelo exterior.
Fazer um trabalho de encomenda, como esse para a prefeitura de Paris, restringe em alguma maneira a sua liberdade de criação? No que você acha que o seu personagem, o Vendedor de Alegria, pode contribuir com o visual do 13º arrondissement (bairro) de Paris?
“Dessa vez não, tive liberdade total para montar minha obra, adaptei as proporções porque nunca tinha feito nada tão grande. Meu trabalho tem elementos diferentes das artes locais do bairro, acredito que minhas cores e estética vão ampliar a gama de estilos que já existem no bairro”.
É importante para você sentir a repercussão do seu trabalho junto ao público? Os franceses ficaram curiosos com a montagem do Vendedor de Alegria?
“Sim, gosto de ver a reação das pessoas diante das minhas obras, isso me inspira em outras criações. Teve muita gente parando e olhando a nossa montagem, várias tiravam fotos e ficavam olhando para dentro, tentando entender do que se tratava – adoro a curiosidade humana!”
Você teve a oportunidade de se encontrar com artistas urbanos franceses? A arte deles e a que é vista nas ruas do Rio tem algum ponto de ligação?
“Sim, encontrei alguns artistas aqui, foi muito legal e importante, no graffiti somos uma grande família e temos os mesmos hábitos e cultura. Conheci o Kongo, um artista oldschool daqui, que me apresentou ao resto da crew dele, pintamos um muro juntos e foi muito bom”.
Alguma vez você já fez pichação política? Se fizesse hoje em dia, seria contra quem?
“Nunca pichei frases políticas e não acredito que frases no muro mudem atitudes políticas”.
Você acha que os artistas urbanos são mais bem considerados na Europa? Dá para viver só de arte urbana no Brasil, levando em conta a história de todos os grafiteiros nacionais que você conhece?
“Acho que tem mais eventos de grande formato na Europa, vi a realidade de alguns artistas aqui e poucos conseguem viver só da arte, acho que é uma realidade mundial.
Outra coisa é que no nosso país existe diferença entre os que picham e os que grafitam. Isso não acontece por aí afora, todos estão juntos, do vândalo ao artista de grandes murais. Para todos, a lei é igual, ou seja, é totalmente proibido, por isso não se vê tantos paineis dentro dos grandes centros, como acontece no Rio e nas outras cidades nacionais.
Nossa sociedade aceita mais e entende bem que é uma arte, então tem um mercado que cresce para todo mundo, para o garoto que está começando e os artistas veteranos. Mas não é fácil viver de arte e cultura no Brasil, nunca foi, não é diferente com graffiti, mas acho que estamos na frente no entendimento e evolução dessa arte tão nova.