Uma casa aconchegante, apesar de escura. Uma mesa domina o palco. Pessoas felizes. Essa é a abertura de “Através de um Espelho“, de Ingmar Bergman, dirigido por Ulysses Cruz. Mas se é de Bergman, como pode ter gente feliz, saltitante? É claro que não. É apenas a maneira que o autor encontrou para mostrar como é a vida aparente daquela família.
David (Joca Andreazza) é o pai, um escritor bem-sucedido, mas que aspira ao reconhecimento pelo valor literário. A filha Karin (Gabriela Duarte) acaba de sair de uma casa de saúde mental. Seu marido, o médico Martin (Marcos Suchara), e o irmão formam a segunda metade do quarteto totalmente apocalíptico em seus relacionamentos de esconde-esconde, de raiva descontrolada, ainda que contida, de reflexos impenetráveis.
“Esta encenação não tem nada, absolutamente nada a ver com o filme. A adaptadora já havia feito um trabalho de transposição do filme pro teatro, linguagens muito diferentes entre si. Aqui, Marcos Daud e Valderez Cardoso trouxeram importantes contribuições para que a peça efetivamente pudesse se comunicar com o público brasileiro. Eu não me interesso nem um pouco pelos dilemas escandinavos se esses não forem os nossos dilemas”, explica Ulysses Cruz, que dirige a montagem.
É uma temporada de verão, mas as trovoadas são os desencontros dos personagens dessa família. Bebem, comem, passeiam, mas num trajeto de pura tragédia. Mistérios, incestos, loucura, dito que não é dito, mostram que o bom Bergman continua senhor absoluto de mostrar que só existe uma possibilidade para o homem: sucumbir a seu destino.
Serviço:
Teatro Poeira
Sexta e Sábado às 21h
Domingo às 19h