Ah! As famílias. Quanta inveja, quanta disputa, quanta falsidade. Quanto erro de julgamento, quanta traição. Só ódio e vingança. É capaz de sua família não ser assim (ainda bem), mas as famílias shakespearianas o são com certeza. E, de todos os textos, Rei Lear é o único que traz o conforto da redenção. E agora, Juca de Oliveira (foto acima), em uma encenação única, com adaptação de Geraldo Carneiro e direção de Elias Andreato, em 50 minutos nos traz, em um espetáculo solo, toda a força de Rei Lear.
Lear, velho e cansado, resolve dividir seu reino pelas filhas e é enganado pelas duas mais velhas. Maltratado, desprezado, consegue entender o verdadeiro amor que é o de sua filha caçula. Essa trama, aparentemente simples, ganha voz na excepcional atuação de Juca, que faz o Rei, as filhas, personagens coadjuvantes. Ao fazer as duas vozes diferentes, arrogância da filha, a humildade e surpresa do pai, entendemos como a maldade e credulidade estão juntas na mesma pessoa.
“Meus professores costumavam dizer: quando quiserem saber algo sobre a trágica aventura do homem sobre a Terra, leiam Shakespeare”, relembra Juca de Oliveira. Em seu texto para o programa da peça, diz: “Hoje, mais do que nunca, filhos e filhas, modernos clones de Goneril e Regan, continuam expulsando de casa os velhos pais para encarcerá-los em asilos, até a morte. Puro Shakespeare. Puro “Rei Lear”.
Um texto que retrata a cretinice humana em 360 graus, Rei Lear nos remete para a ideia que de o passado não existe e que o presente é eterno. Erro das princesas e de seus maridos. Erro do homem que acha que o poder é absoluto e que poder ser seu começo, meio e fim. Ledo engano. Erro grave de Lear. Erro grave de todos nós. Essa é grande lição de Rei Lear, que nos faz pensar e muito sobre quem efetivamente tem o poder. Poder de amar verdadeiramente. Aliás, o único que interessa.
Serviço:
Teatro Dos Quatro
Quinta a sábado às 19h
Domingo às 20h30