Pois é. Você não quer ver o Brasileirão ou desistiu da novela,está aborrecido com o Lava-Jato, ficou decepcionado com o resultado das eleições. É hora de deixar tudo para trás e começar a dar enormes gargalhadas. “Acabou o pó”, de Daniel Porto, é um mergulho no cotidiano do Brasil real. Um texto que ultrapassa os clichês, as paródias, as receitas de comédia. Um texto que faz rir (e muito e muito), mas que coloca a gente de frente à mediocridade da vida comum.
“Acabou o pó” já te provoca desde a primeira cena. Um homem, vestido para lá de desleixado, está polindo as unhas. Ouve-se outra voz masculina, com um sotaque feminino e quando você acha que lá vem um texto gay,acontece o primeiro e excelente impacto. Os atores Leo Campos e Alexandre Lino interpretam duas mulheres, Naná e Kelly, essas com quem encontramos no metrô, em nossos trabalhos, em nossas casas e com quem só trocamos palavras formais.
O autor Daniel Porto demonstra uma perícia incomum na manipulação das palavras, na criação de situações, no jogo dramatúrgico mesmo. Com apenas 22 anos, ele mesmo diz: “Aprendi muito através da observação da minha família, das famílias de meus amigos”. Um voyeur privilegiado que nos traduz à perfeição o que vê.
É uma história sobre mulheres. Traídas, renegadas, maltratadas, mulheres à margem dos selfies, esquecidas de sua feminilidade. Aí entra o enorme talento de Daniel Porto: viramos o vizinho da porta ao lado, que vê pela fresta a desgraça alheia, se ri dela. Mas quando tudo acaba, dá um tempo e entende que a piada é apenas um jeito generoso de nos fazer ver a realidade. Por mais cruel que seja.
Serviço:
Teatro Candido Mendes
Quartas e quintas, às 21h
E para se divertir e se encantar
“Constellation” , peça de Claudio Magnavita, dirigida por Jarbas Homem de Mello, faz uma viagem a um Brasil brejeiro, alegre e cantante. Com 16 canções dos anos 50, embala o sonho de uma jovem, faz a plateia cantarolar.
Serviço:
Teatro Vanucci
Quinta a sábado às 21h30
Domingo às 20h30