A vida é regida por mandamentos. Escola tem regra. Família tem regra. Banco tem regra. Até a praia tem regra, ainda que as pessoas se esforcem para não cumprir. E quem não tem inveja desse povo que quebra a banca? Que não tem medo de se entregar? E muito menos tem medo daquilo que os outros pensam? Cassia Eller era assim. Sexualidade, voz, maternidade, jeito de viver na contramão. Morreu na contramão, só que não atrapalhou o trânsito.
“Cassia Eller, o musical” traz mais do que a memória afetiva do incrível personagem que foi a cantora. Tacy de Campos, escolhida ente centenas nas audições públicas para ser a intérprete da protagonista, com um enorme e abusado talento, rememora com o elenco enxuto e afinado (Eline Porto, Emerson Espíndola, Evelyn Castro, Jana Figarella, Mario Hermeto e Thainá Gallo), os episódios que marcaram a vida da artista, desde a descoberta da sexualidade, os amores intensos, a maternidade e a imensa e brutal timidez
A partir da idealização de Gustavo Nunes, foi reunida a equipe que deu vida e voz à emblemática Cassia Eller, com texto de Patricia Andrade, direção de João Fonseca e Vinicius Arneiro e direção musical de Lan Lan. Durante duas horas, o que se vê, se canta, se dança sentado, se aplaude, se emociona é o conjunto do conflito, das idas e vindas da carreira, das emoções e até dos parceiros sexuais.
No programa da peça, Patricia Andrade diz que optou pelo tom de alegria. Escolha acertada, pois a vida intensa e curta é repleta de amigos, amores, trocas intensas e muitas, mas muitas brincadeiras e piadas de si própria e dos outros que a rodeiam. Joie de vivre, diriam os franceses. Porreta, diriam os baianos. E “duca”, diriam os antigos. Mas todos serão unânimes em dizer: Cassia não precisava de ideologia pra viver. Só viver um muito mais.
Serviço
CCBB
De quarta a domingo: às 19h