Foi o pai de Ana Cláudia Michels quem a estimulou a fazer um curso de modelo quando ela tinha apenas 14 anos. Logo depois, foi descoberta por uma agência em Florianópolis, Santa Catarina. E, daí para frente, seu nome não saiu mais dos desfiles das mais importantes grifes mundiais, como Louis Vuitton, Chanel, Calvin Klein, Marc Jacobs, Versace, Roberto Cavalli e muitas, muitas outras.
Não satisfeita, linda e magra, aos 33 anos, está cursando Medicina. Ana Cláudia é dona de olhar afetuoso, sorriso generoso e está longe de ser uma pessoa rasa, fama que muitas modelos carregam. Muito pelo contrário. Isso, falando da parte interna, porque do talento externo todo mundo sabe muito bem. Nessa edição do Fashion Rio, que acabou na sexta-feira (11/04), cruzou a passarela com seu corpão, só para marcas de moda praia: Salinas e Lenny Niemeyer. Na vida pessoal, Ana Cláudia não tem do que se queixar – está bem feliz com o namorado, Augusto de Arruda Botelho; os dois estão juntos há um ano e meio. Leia a entrevista:
UMA LOUCURA: “Loucura foi começar a trabalhar aos 14 anos numa profissão que era totalmente desconhecida pra mim. Achava que modelo era tipo miss: ia lá, ganhava um concurso, um prêmio e então teria glória, sucesso e fama para todo o sempre, que incluía ficar dois meses em Nova York, depois em Tokyo, depois Milão, ainda nessa idade, sem falar uma palavra de inglês e levando minha mãe junto, que nasceu no interior de Santa Catarina e que conheceu energia elétrica aos 18 anos. Tanta coisa poderia ter dado errado (e muitas realmente deram), mas, no fim, tudo valeu a pena. Essa loucura aconteceu há 18 anos, mudou minha vida e da minha família para sempre, em todos os sentidos. Sou muito grata por tudo, porém, na minha casa, o assunto do começo da minha carreira é um tabu, e não se fala nisso: ficamos todos com um nó na garganta.”
UMA ROUBADA: “Fiz uma campanha de biquíni em Foz do Iguaçu no inverno; eram dois dias de trabalho. Quem me chamou foi o Alexandre Herchcovitch, por quem tenho grande admiração e por quem aguentaria qualquer coisa. Os termômetros marcavam 4 graus, mas ventava muito e, por causa das cataratas, havia sempre um sprayzinho de água no ar. Foi o maior sofrimento físico que eu já passei. No fim, fiquei tão arrepiada e tremia tanto que tiveram que retocar as fotos a ponto de parecer uma manequim de plástico num estúdio artificial.”
UMA IDEIA FIXA: “Acordo e vou dormir com essa preocupação: como vou conseguir conciliar a faculdade de Medicina e depois a profissão (já que comecei tarde, aos 31 anos), com uma família e criação dos filhos que ainda pretendo ter? Falo pra mim mesma: um dia de cada vez, um dia de cada vez, como um mantra.”
UM PORRE: “O Guns N’ Roses disse que ia dar um showzinho particular numa boate em São Paulo, e lá fui eu com meus melhores amigos. As horas foram passando, e a banda não chegava… Bom, basta dizer que fui ‘discretamente’ carregada pelos meu queridos amigos até em casa e estou em débito com eles para sempre pela trabalheira que dei. Sou muito grande pra qualquer um carregar (1.80m).”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Gostaria de ser uma pessoa mais culta em relação à História. Não gostava da matéria na escola e não aproveitei. Tive um professor excelente no cursinho em 2012, mas, como o tempo é curto e a matéria, gigante, aprendi muito pouco e superficialmente.”
UM APAGÃO: “Vivo num eterno apagão, o mais grave é o do nome das pessoas. Só dou vexame… Esqueço compromissos importantes, data de prova, festa, trabalho, aniversários etc. Uma das frases que mais saem da minha boca é ‘me desculpa, tu não vai acreditar mas eu realmente esqueci.'”
UMA SÍNDROME: “Totalmente relacionada ao meu apagão: fui diagnosticada com Déficit de Atenção há quatro anos. Pelo menos, agora tenho uma condição médica pra ajudar nas desculpas.”
UM INSUCESSO: “Lidar com banco e outras funções burocráticas; me atrapalho toda, me irrito, faço confusão. Precisaria de alguém que fizesse isso por mim.”
UM IMPULSO: “Me meter onde não sou chamada nos trabalhos. Minha função é posar para as fotos e fazer com que a roupa fique da melhor maneira possível; mas não me aguento: dou minha opinião no cabelo, maquiagem, roupa, luz, ângulo.”
UM MEDO: “Tenho muito, muito, muito medo da morte. Não da minha morte, mas das pessoas que eu amo.”
UM DEFEITO: “Meu defeito é não saber ser muito carinhosa. Não é por falta de sentimentos… Ponho a culpa, em parte, na minha criação típica alemã na qual sobra amor, mas faltam demonstrações claras de afeto. Minha forma de mostrar que gosto, às vezes, é ‘tirando sarro’ da pessoa. Eu sei que está errado. Juro que estou tentando melhorar.”
UM DESPRAZER: “Desprazer é não gostar de lidar com o deslumbre. Acho que a vida tem momentos maravilhosos e momentos difíceis pra todos, e me dá segurança ter consciência dessa realidade.”
UMA PARANOIA: “Desde que comecei na profissão de modelo, depois de cada trabalho, penso que o cliente esperava mais de mim, e que aquele foi o último.”