Que todos nós sabemos como é, é verdade. Que todos nós fechamos os olhos, tampamos os ouvidos, é verdade. Que todos nós viramos o rosto, colocamos o travesseiro na cara, bancamos o avestruz, é verdade. Assim é a relação do povo do asfalto com as”comunidades”. “Olheiros do Tráfico”, texto e direção de Moisés Bittencourt com supervisão artística de Domingos Oliveira, retrata, com enorme fidelidade, o cotidiano de dois adolescentes que ficam de tocaia para os traficantes.
Em um estilo docudrama, no qual Sandro Barçal e Bruno Suzano dão vida à Crika e Tavim, dois adolescentes que, ainda que tenham os sonhos, medos, desejos e contradições próprios da idade, têm que posar de adultos, guerreiros, valentões. Assim devem ser e assim são exigidos pelo comandante-traficante Sabuka. Na verdade, o confinamento em condições desumanas reforça os laços de amizade. Torna Crika e Tavim irmãos, apesar de um ser da favela e outro da Zona Sul.
“Eu estou assistindo a um dos melhores espetáculos que já vi. Excelentes atores sobre todos os aspectos. É uma história difícil de contar, porque é uma história do tráfico. Da injustiça social que já foi contada dez mil vezes, mas acho que têm histórias que têm que ser contadas sempre”, afirma Domingos.
Assistir a “Olheiros do Tráfico” é constatar, primeiramente, o estupendo desempenho de Sandro e Bruno que conseguem a expressão corporal, a inflexão da voz, o jeito e o tempo de dois adolescentes largados na marginalidade. Assistir a “Olheiros do Tráfico” é como se estivéssemos vendo atos proibidos pelo buraco da fechadura. Assistir a “Olheiros do Tráfico” é um choque de realidade, um sacode legal. Assistir a “Olheiros do Tráfico” é um primeiro passo para sair da inércia.
Serviço:
Sesc Casa da Gávea
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 20h