Os relâmpagos e os trovões são simbólicos para anunciar a chegada de algo extraordinário. A abertura de “Vênus em Visom”, espetáculo estrelado por Barbara Paz (Wanda) e Pierre Baitellie, dirigidos por Hector Babenco, é o diretor/adaptador desesperado, trancado em um escritório e cercado pelo barulho e luzes da tempestade que acontece lá fora. E eis que surge Wanda, a atriz retardatária para o teste.
Assim, toda a peça, em tempo real com a ação que se desenvolve, é o teste de Wanda pra viver o papel de Wanda na peça “Vênus em Visom”, uma adaptação do texto de Masoch, artista que deu origem ao termo “masoquismo”. Hector Babenco resume o espetáculo: “Uma farsante tosca e vulgar chega ensopada num teste de atriz, em que um diretor em fim de jornada será seduzido e abusado (atropelado) sem piedade por esta Vênus em Visão”.
Essa é a primeira excelente marca. Delineia-se de imediato que se trata de algo no espelho: uma peça dentro da peça, uma atriz dentro da personagem. Wanda, aparentemente uma tola, vai ganhando força à medida que a leitura do texto vai se desenvolvendo. E o diretor vai ficando um submisso, mais do que um adaptador de Masoch; ele mesmo, um masoquista. Wanda se despe e se veste, mas o sapato é de salto altíssimo: arma indispensável a uma dominatrix.
Por se tratar de um texto que fala do próprio teatro, seus impasses, seus acertos, suas combinações e descombinações, vemos que, acima de tudo, o que se destaca é o poder do ator. Wanda se impõe como aquela que é a opção correta para o papel: pelo seu talento, pelo seu conhecimento, pela sua ousadia. Ao diretor/adaptador, nada mais resta do que sucumbir, aderir à causa, e que não sabe que obedecer é, muitas vezes, o melhor caminho para o prazer! Obedeçamos todos à Vênus em Visom.
Serviço:
Teatro do Leblon – Sala Marília Pêra
Quintas, sextas e sábados: 21h
Domingo: 20h