Primeiro, você pergunta na garagem do shopping: “Onde é a peça?”. Eles indicam: “Lá no fundo”. E aí é isso mesmo. Não tem palco, não tem parede, é apenas uma simulação de portas de elevadores e uma pequena escada. Você está assistindo a uma movimentação de personagens na qual os carros que circulam por ali também são personagens, cenários, trilha sonora. Assim é a peça “Garagem”, encenada no espaço do G3 do shopping Rio Sul.
Juan, o principal personagem, representado por Gustavo Paso, também idealizador, diretor e autor, é um desse sujeitos que tinha uma riqueza construída no castelo de cartas do mercado financeiro. É descoberto, perde tudo e só lhe resta morar no que sobrou do seu patrimônio: uma vaga de garagem. Os vizinhos, inclusive o sogro, os filhos, a ex-mulher, a vizinha em que Juan dá em cima, os porteiros, todos se movimentam nas idas e vindas para festas, passeios, piscina. Saem e voltam de carro. Estacionam, correm, freiam. Assim, como a vida de Juan, nesse momento.
“Quando escrevi o texto, sabia que queria montar em uma garagem de verdade. Não me interessava ir para um teatro”, afirma Gustavo Paso. “Meu interesse é transgredir“. E passar dos limites, o que torna “Garagem” um espetáculo muito interessante, é que tudo se apoia no tom praticamente documental dos figurinos, das reações. A vizinha nova-rica é burra, muito burra. O síndico é autoritário, muito autoritário. E assim vão todos.
Juan vai crescendo no isolamento do seu quadrado. Todos os que antes o bajulavam, agora riem, implicam, viram as costas. Mas, o tom é leve, muito mordaz. Assim, são os desempenhos imperdíveis de Eduardo Tornaghi, como o Síndico, e de Miele, como Porteiro. E se não valesse tanto a pena ver o espaço diferente ser o principal personagem, observar a cretinice da alma humana, assistir a Miele, um homem tão chique, vestido em macacão de porteiro, sem perder a elegância, já é um grande motivo para não se perder “Garagem”.
Serviço:
G3 do Shopping Rio Sul
Quarta a sábado, 21h
Domingo, 19horas