O caso do brasileiro David Miranda – que ficou detido por 9 horas no Aeroporto de Heathrow, em Londres, por suspeita de ameaça à segurança britânica – revelou, em suas entrelinhas, uma questão que nada tem a ver com terrorismo, documentos secretos, espionagem, enfim… O episódio expôs o cuidado com que relações homossexuais ainda são tratadas pela mídia.
Nos jornais, tanto em suas versões impressas como online, e nos sites de notícias, David e o jornalista americano Glenn Greenwald, que são namorados há anos, quase sempre são chamados de “companheiros” (com raras exceções, como no artigo de José Casado, no O Globo). Em todas as emissoras de TV, que têm que falar abertamente, cara a cara com o telespectador, são chamados o tempo todo de “companheiros”.
Quem namora é namorado, certo? É assim com todos – hetero ou homossexuais – que querem se conhecer melhor antes de formalizar a união. Então, se Glenn e David ainda não são casados, mas namoram, por que chamá-los de “companheiros”, como se tratam os petistas? É apenas a repetição de um caso como tantos outros. Pro ex-Presidente Lula, por exemplo, todo mundo é companheiro. Teria Lula uma relação com tantos políticos como Miranda e Greenwald? Claro que não!
Mais de três meses se passaram desde que os cartórios brasileiros começaram a oficializar casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo. Para muitos, ainda é um tabu, como todo assunto que envolve a orientação sexual de um cidadão; para a imprensa, deveria ser natural informar da maneira mais clara possível, dando o nome certo à coisa certa, não é?
Carlos Tufvesson, coordenador da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio, dá sua opinião: “Pra mim, chamar marido ou namorado de ‘companheiro’ é quase um eufemismo, como os petistas se chamam ou, ainda, os fascistas italianos. Convenhamos que se o casal está “namorando” há anos, vira quase uma enganação”, diz ele, que vive uma relação estável com o arquiteto André Piva, há 17 anos. Ambos se tratam como “Meu marido”.