![maria thereza goulart](https://lulacerda.ig.com.br/wp-content/uploads/2013/06/maria-thereza-goulart.jpg)
Maria Thereza Goulart, que já viveu uma época sombria no Brasil, quando casada com o então Presidente João Goulart, diz que ao contrário de Jango, os políticos atuais vivem encastelados, sem ver, sem conversar, sem olhar para o povo. Maria Thereza, que viveu no exílio, ao lado do marido, considerada uma das primeiras-damas mais bonitas, pela revista “Time”, junto a Jackie Kennedy, sempre teve opinião, muito além de enfeitar as reportagens sobre o País. A sede da Legião Brasileira de Assistência (LBA) em Brasília, por exemplo, foi fundada por ela.
A ex-primeira dama assistiu, nos últimos dias, às manifestações que tomaram o Brasil de ponta a ponta. A certa altura dessa entrevista, de perguntas fixas, ela traça um paralelo entre os eventos que culminaram com a deposição de João Goulart, e o perfil dos políticos atuais. Há 37 anos da morte do marido, ela e os filhos, João Vicente e Denize, enfrentam o drama e a expectativa da exumação do corpo. O processo deverá esclarecer se Jango teve morte natural ou se o ataque cardíaco foi provocado. Leia:
UMA LOUCURA: “Loucura foi casar aos 17 anos, a maior da minha vida, mas foi uma loucura que deu certo.”
UMA ROUBADA: “A corrupção no Brasil, ora, ora, é literalmente uma roubada.”
UMA IDEIA FIXA: “Minha maior ideia fixa é ver um país mais humano, onde os políticos se preocupem com aquilo que está além deles mesmos.”
UM PORRE: “Porre é ficar presa no trânsito e assistir a discursos de políticos. Você é capaz de adivinhar a razão, não é?”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Frustração foi perder meus pais muito cedo. Eu estava no exílio quando eles morreram – minha mãe, em 1967, e meu pai, em 1969. A maior dor que carrego foi ter sido proibida pelos militares de entrar no Brasil para vê-los, sob ameaça de prisão. Isso é inesquecível. A maior mágoa que tenho na vida é da Ditadura.”
UM APAGÃO: “Tive um apagão ao ficar presa num elevador durante 30 minutos, de onde me tiraram desmaiada. Foi há anos, em Copacabana.”
UMA SÍNDROME: “Síndrome? Se tenho alguma, eu realmente não percebi.”
UM MEDO: “Meu maior medo é perder as pessoas que amo. Tenho ainda pânico de velocidade e de multidão.”
UM DEFEITO: “Nossa, são tantos os meus defeitos que não dá nem para tentar dizer.”
UM DESPRAZER: “Ver pessoas doentes nos hospitais, sem atendimento. O último grande desprazer é ter de conviver com essas suposições e dúvidas sobre a morte de Jango. (Maria Thereza está se referindo à notícia de exumação do corpo de João Goulart por decisão da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, divulgada em maio deste ano).
UM INSUCESSO: “Ter deixado de estudar para casar, no Colégio Americano, em Porto Alegre. Saí de férias e nunca mais voltei. Depois de casada, poderia ter estudado, mas nunca deu tempo.”
UM IMPULSO: “Impulso seria cair dentro de uma lata de leite condensado, mas tenho pavor de engordar.”
UMA PARANOIA: “Vejo o que está acontecendo no nosso país e me lembro do meu marido (Jango), que, numa situação dessas, já estaria na rua, no meio do povo para dialogar. Esse, sim, é o papel de um governante. A maioria dos que estão aí são os ‘políticos palacianos’, aqueles que vivem dentro dos palácios e de lá não saem, não sentem nada, sem ver, sem conversar, sem olhar pro povo; no máximo, aparecem na televisão. Não sei nesses anos o que mudou mais: se o Brasil, ou o perfil dos políticos. Fiquei bem feliz ao ver minhas netas partirem para as passeatas, e comentei com elas o que o avô estaria fazendo numa situação dessas.”