Na fila do supermercado, na praia, nos elevadores, no trabalho, até mesmo na igreja, só se ouve dizer: “Como estou sozinho”, “Como não consigo encontrar alguém”. A solidão, mal menor apenas que o stress, é a doença que ataca a sociedade contemporânea. Não tem preconceitos, não tem hora e nem lugar. São cinco situações de total solidão que compõem o espetáculo “Ah, a Humanidade! e Outras Boas Intenções”, de Will Eno, um dos mais talentosos e premiados dramaturgos americanos da atualidade.
Vividos pelos atores Alice Borges, Cláudio Mendes, Guilherme Weber e Renata Hardy, os vários personagens vão desde um treinador desportivo de sucesso que atribui o seu fracasso a um amor mal-sucedido, um casal que fala para si próprio, a uma funcionária de companhia aérea que não consegue articular-se para comunicar um desastre. Em monólogos de texto bem simples, apresentam a desarticulação do sujeito de hoje.
O cenário de Valdy Lopes Jn e Rafael Faustini é o grande personagem: irregular, com pichações, objetos velhos e quebrados, mistura telhado com cama, restos de vidas que passaram e se foram. A direção de Murilo Hauser não enfatiza nem a tragédia, nem o drama da existência. O tom de farsa, uma ironia fina presente em todas as atuações, só nos ajuda a perceber o quão próximo de nós está o desencontro.
A concepção de Guilherme Weber e Murilo Hauser trabalha os cinco textos de “Ah, a Humanidade! e Outras Boas Intenções” como se fossem pequenas telas, repletas de pequenos detalhes .”Vivemos metade no mundo e a outra metade, nos universos solitários de nossas mentes”, diz Will Eno. E durante uma hora, a plateia mergulha na metade dos universos solitários que, muitas vezes, tentamos esconder.
Serviço:
Casa de Cultura Laura Alvim, Ipanema
Quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h