Incomunicabilidade. Diálogos que são monólogos. Amor que soa como ódio. Campos de tensão. A repetição do fica comigo/vai embora. Você não me compreende. Você tem tudo para ser feliz, e não consegue ser feliz. Duas peças com caminhos diferentes, personagens diversos encaram o desafio de mostrar como o homem só é capaz de existir com a demonstração de amor do outro. São elas Até o sol Nascer e Aos nossos filhos.
Até o sol Nascer, com Giuliano Candiago e Letícia Birkheuer, é a história de uma noite na casa de uma modelo famosa que chama um garoto de programa para se distrair. A distração não é suficiente para distrair a modelo; ela quer mais. Ela quer companhia, conversa, amor. Assim, ambos os personagens, em tom confessional, desfiam suas vidas. A da modelo, que deveria ser a feliz, é miserável. A vida do garoto de programa é apresentada como plena, inclusive com o seu casamento com um transexual.
Projeto de Giulano, Até o sol nascer é dirigido pelo autor Luciana Maza. ” O texto trata dessas duas vidas distintas: o mundo dela e o submundo dele, que, apesar de atribulado, é repleto de amor. Tem alguém para dar-lhe “Boa Noite”; ela, não” – resume Giuliano.
Aos nossos filhos mostra o embate de uma mãe, interpretada pela consagrada atriz de Pulp Fiction, a portuguesa Maria Ribeiro, e de uma filha, Laura Castro autora do texto, sobre as questões e as atribulações da maternidade. Aqui também a ação acontece em tempo real. A mãe, psiquiatra e militante política nos anos 70, deveria ter todas as credenciais para saber lidar com as diferenças. Ao ser confrontada com a homossexualidade da filha que lhe revela que vai ser mãe, via a gravidez da companheira.
Aos Nossos Filhos nasceu de uma experiência pessoal da autora. Casada há 13 anos com Marta Nóbrega, têm juntas três filhos: Rosa (gerada por Marta), José (gerado por Laura) e Clarissa (adotada). “A experiência me aproximou ainda mais das questões ligadas a famílias homoafetivas no Brasil. Anteriormente a este espetáculo, participei do programa de TV Novas Famílias, dirigido por João Jardim, no qual trabalhei na pesquisa, e acabamos nos tornando personagens”, conta Laura.
Choro, gritos, ranger de dentes, abraços, revelações, declarações, constatações acontecem sem nenhuma interrupção ou separação. No extraordinário cenário de Andre de Castro, com a comovente direção de João das Neves, conseguimos enxergar que os sentimentos são ambivalentes, conflitantes, excludentes, mas são aqueles que constituem a nossa persona e moldam nossa trajetória. E o mesmo vale para Até o Sol Nascer.
Serviço
Aos nosso filhos ( até domingo)
Caixa Cultural
Sábado: 18h e 20h. Domingo: 19h30
Até o sol nascer
Centro Cultural Solar de Botafogo
Quinta, sexta e sábado: 21h. Domingo: 20h30