A morte do artista plástico chileno Jorge Selarón, cujo corpo foi achado na escadaria do Convento de Santa Teresa, que liga o bairro à Lapa, na manhã dessa quinta-feira (10/01), não deve surpreender tanto assim a quem ali vive e circula. A famosa e cantada Lapa anda repleta de violências miúdas, digamos assim (se comparadas a esse assassinato). Uma verdadeira máfia parece reinar na noite do bairro, um tanto despercebida pela polícia.
Em recente situação, um jovem ladrão puxou o celular de uma amiga do jornalista Zé Luiz Martins, que estava com um grupo por ali. Ela correu atrás do bandido, e os dois caíram ao chão. A moça se machucou no rosto, e o pessoal que assistiu à cena deu porrada nele. Na mesma hora, apareceram dois homens fortões, mandando parar; alegaram que o ladrão estava sem defesa, ou seja, seria uma covardia. Isso, em qualquer lugar do Rio, é bem estranho – os cariocas sabem!
Outros dois amigos foram vítimas do “Boa noite Cinderela” – um deles achou muito esquisito ninguém do hotel pra onde foi levado ter percebido absolutamente nada… Quando acordou, os bandidos já nem estavam no local. Um outro passou pelo mesmo crime: “Ali é barra pesada: assalto e tráfico correm soltos”, diz ele, que é ex-frequentador e quer quilômetros de distância daquela área.
O problema é que gente conhecida, quase sempre, não gosta que divulguem seu nome (“…pra não comprometer minha imagem”), ainda que consciente de que poderia ajudar outras possíveis vítimas e até chamar atenção pra evitar que chegue a violências graúdas, como agora. A omissão, muitas vezes, pode ser considerada também um tipo de violência.