No palco, aquela voz linda que todo mundo conhece; nos shows, aquele corpão que não muda; na vida, aquela delicadeza que poucos têm. É assim que o cantor e ator Ney Matogrosso vive. Nesses muitos anos de carreira (desde a década de 1970), a inteligência e a irreverência são as mesmas.
Em setembro deste ano, o “GNT Fashion” fez um episódio dedicado a ele, ao acompanhar a abertura da exposição em homenagem aos seus 40 anos de carreira: “Cápsula do Tempo: identidade e ruptura no vestir de Ney Matogrosso” conta com quase 30 figurinos, selecionados entre mais de 200. Esse número tão grande de “fantasias”, usadas a vida toda, mostra sua atenção à estética, proporcional à irreverência.
Ney anda muito feliz com seu lado ator. Desde a estreia do filme “Luz nas trevas”, em maio, no qual interpreta um ladrão de casas, sua alegria ao falar do assunto é perceptível. E estão vindo outros filmes por aí!
UMA LOUCURA: “Foi abandonar o serviço público para fazer parte de um grupo sem futuro, em 1972. Loucura considerada pelas pessoas, e não por mim, claro.”
UMA ROUBADA: “Roubada é o trânsito do Rio de Janeiro.”
UM PORRE: “Tomei um porre em Brasília, aos 21 anos, quando saí com amigos. Quando voltei a mim, estava embaixo de um cano furado, jorrando água em cima de mim, completamente nu, no meio da rua. Aí mesmo que tomei horror de álcool. Outro, seria a saúde pública no Brasil. Vejo televisão só pra ficar triste quando tocam nesse assunto.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Eu tinha, mas não tenho mais. Sempre pensei em ser ator e tinha essa frustração. Nos últimos anos, exercito a profissão no cinema, ou seja, a frustração acabou.”
UM APAGÃO: “Estou dando um verdadeiro apagão nos meus ganchos do passado. Sempre que eu pensava, me dava um grande desconforto. Perdoei e esqueci. É como se não tivesse sido comigo. Limpei! No transcorrer da vida, dei um apagão nos ressentimentos.”
UMA SÍNDROME: “O que é síndrome?”
INSUCESSO: “Minha vida nesse sentido é estável, pelo menos em termos artísticos, com alguns picos; não tenho do que me queixar. O primeiro show, antes do “Pescador de Pérolas”, é uma tentativa de não me olharem como ser fantasiado, e sim como um cantor – me vesti de terno e estava no palco apenas pra cantar.”
UM IMPULSO: “Sou do impulso; são muitos. Funciono assim. Me arrisco, mas gosto disso – risco é sempre excitante.”
UM MEDO: “A única coisa que tenho medo na vida é do mar. Quando criança, em uma viagem da Bahia para o Rio, peguei uma tempestade violenta, e acho que isso ficou no meu inconsciente.”
IDEIA FIXA: “Tenho ideia fixa no trabalho; vivo pensando nisso. Tudo que passa pela minha frente é estímulo para o meu trabalho, o que pra mim é prazer. Se me oferecerem muito dinheiro pra ficar parado, eu não quero.”
UM DEFEITO: “Meu maior defeito é o ciúme. Por ele, já apanhei e já bati. Tento sublimar: não gosto de sentir de ninguém e não gosto que sintam de mim. O ciúme aflora em mim os piores sentimentos. Claro que não sou aquele louco que tem ciúme de amigo.”
UM DESPRAZER: “É ver o Rio sujo. Falo como um cidadão. Moro na cidade mais linda e mais imunda do mundo. Já melhorou, mas ainda está distante do ideal. Acabei de voltar de Lisboa e dá inveja: as ruas brilham de tão limpas.”
UMA PARANOIA: “Tenho paranoia com a violência. É um sobressalto, sempre. Até os anos 70, podia-se andar nas ruas tranquilamente, sem receios; e, nos anos 60, entrava-se nos lotações com esmeralda e diamante.”