A Rocinha deve ser o lugar mais falado dos últimos tempos no Rio, talvez no Brasil, desde o dia 13 de novembro, quando a famosíssima comunidade carioca foi ocupada pela polícia.
Acaba de ser lançada uma camiseta com a frase: “I love Rocinha“, que vem sendo vendida como água. Muita coisa ali mudou, apesar de a favela continuar pulsante e frenética, com uma diferença fundamental: não existem traficantes armados nas ruas – mais ou menos 400 homens do Bope estão rondando a área em tempo integral. Muitas casas ainda serão revistadas; temendo isso, alguns moradores colaram avisos nas portas. Portas de todo tipo – nem todos no Rio dispõe de uma vista deslumbrante ou acordam com passarinhos e palmeiras a poucos palmos do nariz – lá tem isso também (dá pra ver na Galeria de fotos).
A principal mudança sentida, porém, foi a queda no comércio, calculada em mais ou menos 50%: seja com os mototáxis, seja com as lojas, seja com os vendedores ambulantes.
A favela está lotada dos mais variados veículos de toda a imprensa, tanto nacional quanto internacional, o que nunca aconteceu antes: “Na época da “Ditadura do Terror” (como os moradores chamavam o passado recente), não se fazia matéria jornalística aqui: qualquer câmera em punho e um fuzil poderiam aparecer na sua frente”, diz um antigo morador.
Nesse meio tempo, dá pra observar, por exemplo, a ausência de preconceito: ao ver um garoto, Antônio Mendonça, vendedor de uma loja de moto com a camiseta estampada a frase “2ª parada gay da Rocinha”, perguntado se ele seria homossexual, Antônio diz que “de jeito nenhum”; ser gay está tão distante da sua vida quanto ser uma pessoa preconceituosa. Usa a camiseta apenas como uma homenagem ao evento que aconteceu recentemente – bem ao contrário de algumas criaturas de grandes centros urbanos.
Enquanto isso, não é difícil notar que, naquele pedacinho do Rio, muitas mulheres continuam exercendo trabalhos normalmente executados por homens no resto do País: motorista de táxi, pedreira, pipoqueira, donas de bares etc., ou seja, a economia ali é muito mais impulsionada pelo sexo feminino.
Dando uma volta por vários cantos da Rocinha, dá ainda pra ver algumas belas mulheres, mas poucas, perto do que normalmente falam. A explicação de um morador é que todas estão trabalhando em outros bairros; uma ou outra, vistas no meio da tarde, como Verônica Oliveira, não se afligem por exemplo, em usar relógio de ouro em plena luz do sol. Não sendo Narciza Tamborindeguy, que pode até andar uma quadra de Ipanema com uma joia assim, poucas cariocas teriam coragem para tal atitude.
Já as vaidosas, como a estudante Ana Carolina, se quiserem comprar um jeans em qualquer das lojas, têm que desembolsar, no mínimo, R$ 88, o mais barato. Uma sandália pode custar R$ 180. Um pote tamanho médio da Whey Protein (proteína americana), que pode ser adquirido em lojas de shoppings considerados de elite por R$ 140, na Rocinha custa R$ 146 e, segundo um dos vendedores, vende muito, de onde se pode concluir que os moradores têm uma grande preocupação com os músculos.
Talvez por essa razão a queda na frequência da principal academia, a RPM, não preocupe Paulo Manso, dono do espaço: “É um momento de adaptação – as pessoas estão ainda receosas, sem saber o que vem pela frente. Logo, logo estará tudo normal”, afirma o professor, pós-graduado pela UFRJ.
“Estamos ansiosos: mesmo com a presença do Bope, o que mais queremos é a instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). O Beltrame (Secretário de Segurança do Rio) vai virar um rei aqui”, comenta uma taxista esperançosa.