Aguinaldo Silva é novelista, jornalista, é escritor de romances, peças etc. É ainda dono de um humor cáustico e inteligente – não deve ser por outra razão, que tem quase 100 mil seguidores no Twitter. No entanto, mais que tudo isso, é muito generoso. Como diz uma global, pergunta àqueles que fazem parte de sua equipe se querem deixá-lo. Nem pensar, segundo ela. É capaz de qualquer coisa para atender um amigo. Dedicado ao trabalho, Aguinaldo não deixa os fatos do dia a dia passarem despercebidos, de jeito nenhum: brinca com o cotidiano. É só lembrar de suas novelas, “Roque Santeiro”, “Vale Tudo”, “Tieta”, “Senhora do Destino” e “Duas Caras”, entre as maiores audiências da Rede Globo. E vem aí com tudo, na próxima segunda-feira (22/08), “Fina Estampa”, sua 16ª trama. Atenção à autenticidade nas respostas – arrasou!
UMA LOUCURA – “O que eu chamo de viagens kamikase: ir para o aeroporto com uma mala de mão e escolher ao acaso um voo que está prestes a sair. Já fiz várias viagens assim: para Buenos Aires, Miami, Fortaleza… E uma vez, de Paris para Lisboa, mas ao contrário, ou seja, de limusine, quando já estava prestes a embarcar no avião. Nunca me arrependi de nenhuma delas.”
UMA ROUBADA – “Encontrar alguém que me diz: “Você precisa ouvir a história da minha vida, pois daria uma novela!”… E, por uma questão de educação, ter que ouvi-la. Em geral, são histórias sem o menor interesse. O problema é que, por mais sensacional que seja, a vida real tem tempos mortos que a ficção não permite… E eles estragam qualquer história.”
UMA IDEIA FIXA – “Escrever novelas populares que caiam no gosto do público e façam com que este se reconheça nelas de imediato. É dificílimo!”
UM PORRE – “Foi o último, na década de 80, quando morava em São Conrado. Comecei no bar Jakuy, do Hotel Intercontinental, às 20h, e só dei por mim, acordando já em casa, no dia seguinte, às 15 h. O que aconteceu nesse longuíssimo período não sei, nunca tive a menor lembrança. Mas o fato de ter sofrido de tão prolongada amnésia me provocou tamanho pânico que fiquei um ano sem beber… E, quando retomei o hábito, já era: tomo duas doses e fico enjoado.”
UMA FRUSTRAÇÃO – “Não ter a menor possibilidade de algum dia ganhar um Oscar. Não pelo Oscar em si, mas pela possibilidade de fazer o discurso e dizer um monte de besteiras do tipo “agradeço à minha mãe, à minha professora do curso primário e ao meu primeiro namorado” – eu acho discurso de ganhador do Oscar o máximo!”
UM APAGÃO – “Acho que foi aquele do porre lá em cima. Mas eu sofro de outros menos perigosos: esquecer o nome de alguém que me aborda em algum lugar e que, eu tenho certeza, conheço. Esse tipo de apagão, que acontece com uma frequência incrível, costuma me deixar em pânico. E, às vezes, quando a pessoa percebe que eu esqueci “logo o nome dela!”, arma o maior barraco.”
UMA SÍNDROME – “Duas: de arrumação e de horários. Não suporto nada fora do lugar em minha casa; nesse ponto, sou quase compulsivo. E sou incapaz de atrasar um minuto sequer para um compromisso, o que, em geral, me deixa a esperar feito um idiota até que a outra pessoa apareça…. Atrasada, naturalmente.”
UM MEDO – “De demorar pra morrer, ter uma daquelas doenças que não trepam nem saem de cima, e ficar, como diria Blanche du Bois, by Tenessee Williams, a depender da bondade de estranhos.”
UM DEFEITO – “Mentir pra mim mesmo. Por exemplo, eu sempre me digo, diante do espelho, que sou sexy, gostosão e lindo. Ou invento pretextos absurdos, nos quais ninguém acreditaria, mas eu acredito piamente, só pra não escrever o capítulo do dia e ir bater pernas no shopping.”
UM DESPRAZER – “Ter comido carne de cobra sem saber que o era. Foi lá em Paulo Afonso, no sertão baiano, à beira da cachoeira. A textura era igual à da manga! Já se vão mais de 30 anos, mas, até hoje, sempre que me lembro disso, fico uma semana enjoado.”
UM INSUCESSO – “A minha vida sentimental não daria uma novela, e foi sempre um fracasso.”
UM IMPULSO – “De largar tudo – menos a conta bancária, é claro – e ir morar em Lisboa, onde me transformaria num daqueles velhos mal-humorados que só existem lá.”
UMA PARANOIA – “Achar que alguém está me olhando… E, em geral, está sim, e não só está como também está pensando: ‘Mas que viado!'”.